sexta-feira, março 29, 2013

A Instalação do Medo, de Rui Zink



Dois homens batem à porta. «Bom dia, minha senhora, viemos para instalar o medo. E, vai ver, é uma categoria».


“A história começa com a chegada de um par de técnicos que batem à porta de uma mulher anunciando que vêm instalar o medo na sua casa. Ao longo da instalação, vamos percorrendo o catálogo dos medos humanos, que não é pequeno. O capítulo em que se procede à demonstração do medo tem como epígrafe a imorredoira frase do sábio António Borges, e cito: «Diminuir salários não é uma política, é uma urgência».
O medo foi, desde sempre, o assessor principal da Política. Mas agora que o tempo não está para luxos, fez um golpe de Estado e tomou-lhe o lugar.
É muito mais fácil governar países através do medo do que através da negociação política – e a Europa começa agora a entender o encanto e as potencialidades deste método que tanto sucesso económico garantiu à China.
O medo torna as pessoas muito mais produtivas do que a pura ambição. Por isso, os neo-liberais entraram em metamorfose acelerada para se tornarem mais dirigistas do que o camarada Hu Jintao, e arranjaram na troika um comité central pós-moderno, que, como os comités centrais dos tempos soviéticos, significa emprego e segurança para o resto da vida, quer o povo coma raspas ou brioches.
O velho sonho de construir um mundo melhor para todos foi substituído pelo ainda mais velho discurso da pobreza honrada.
O problema é que é complicado ouvir serenamente um gestor multimilionário pregar a necessidade da pobreza alheia – e a antiga classe média que luta agora pela pura sobrevivência, revolta-se.
Os jovens turcos da Coisa Financeira ( que se tornou a única Coisa) não contavam com a revolta: os países magníficos como a China ou a União Soviética nunca tiveram classe média; os que nunca tiveram nada convencem-se calmamente a ter pouco e calar.
«O medo, pouco a pouco, torna-se virtualmente a única realidade», escreve Zink, na sua ficção mais verdadeira do que o pão de cada dia.
O medo varre todas as espécies de amor e garante a subsistência de uma única lealdade: a devida ao chefe. O estreitamento da oportunidade de ter um chefe, um trabalho – qualquer que seja – e um salário, exponencia o grau da subserviência.
Sempre que abre uma vaga, as pessoas esgadanham-se para a conseguir, utilizando todos os métodos de pressão e influência. É esta a paisagem.
O medo devora sentimentos, dignidade, consciência – tudo o que representa a diferença e a excelência da humanidade.
Os instaladores do medo pasmam de o ver tão eficaz. Também eles têm medo: medo que a estratégia do medo tome um dia conta dele, e se vejam no lugar dos pobres que hoje cozem no forno do barro do terror de amanhã.
Amanhã, não se esqueçam, estaremos todos mortos. A espécie humana é a única que o sabe – mas até a ideia da morte o medo parece ter comido. “ por Inês Pedrosa

«Recorrendo a frases curtas, à meta-linguagem […] e despido da ironia que o acompanha quase sempre, o escritor constrói uma narrativa que é uma forte crítica ao modelo civilizacional assente nos mercados. Os mercados são aqui o papão que tudo comanda e assusta […] Seco, cru, o livro arrisca na fórmula e é eficaz no efeito. No mesmo fôlego da escrita, o leitor entra na espiral construída por Rui Zink, sente o incómodo, sente-se vítima.» por Isabel Lucas, Público

Ao longo da história são conhecidos os vários momentos em que oriundas, ora de Inglaterra, ora da Alemanha, fomos invadidos por más notícias. Mas que me lembre nunca tivemos dessas más invasões em simultâneo.

(…). Tive, ao ler A Instalação do Medo, a mesma emoção feita de espanto causada pela leitura de O Processo, de Kafka. (…) Mais do que este medo que se anuncia porta a porta e se instala, de modo viral, incontornável, a descrição de situações com que deparamos dia a dia em destaque na net, nos jornais, na rua, -por todo o lado: a da indiferença perante o outro, despido da sua humanidade, como os judeus o foram outrora, de modo sistemático como nunca se vira até ao tremendo momento da “solução final. (…)
Este medo descrito, de diversas maneiras, é próximo parente dessa ideia de alguma solução final, agora modernizada e mais adequada ao que se julga ser de imediato mais útil: empobrecer, em vez de matar logo. Pois a promoção da pobreza, física, mental, moral – matará tanto ou mais do que as câmaras que consumiram os corpos mas acabaram por elevar as almas: hoje a consciência do Holocausto é mais viva e o apelo a que nunca mais se repita fala alto.
O medo fala baixinho, por isso se tornou em arma melhor escolhida, mais fácil de espalhar e mais actuante: medo e silêncio coabitam nas almas enfraquecidas (…) Nesta obra, Rui Zink deixa um grande fresco da nossa sociedade portuguesa e não só, pelo nosso exemplo passa a nova realidade que no mundo se enfrenta: e escusado será dizer, é uma realidade que ele, pela ironia crua nos convoca a combater”.

terça-feira, março 26, 2013

Austerity Queen (A Rainha da Austeridade)


Portuguese, Irish, Italians, Cypriots, Greeks and Spaniards you are my slaves, all lying now creeping up to me.
Pigs!
Street!
Fast!

Portugiesischen, irischen, italienischen, Zyprioten, Griechen und Spanier ihr seid meine Sklaven, liegend alle jetzt schleicht sich an mich.
Schweine!
Straße! Raus!
S
chnell!

segunda-feira, março 25, 2013

Mergulhador versus anaconda



Fotografar a vida selvagem é um trabalho de risco, mas não haverá muitas situações onde estes profissionais arrisquem tanto a vida como o mergulhador suíço Franco Banfi, que ficou a centímetros de uma gigante anaconda de oito metros. Tudo para captar, com todos os detalhes, a enormidade do animal.




O mergulho teve lugar num rio de Mato Grosso, no Brasil, e as fotos – pelo menos para nós, que não arriscámos a vida – valem bem a pena.




Normalmente, as anacondas ficam perto da superfície da água, onde procuram presas como ratos, peixes ou pássaros. Esta anaconda, com oito metros, tinha acabado de comer uma capivara, tendo-se mostrado pouco interessada num segundo prato.




“A cobra já tinha comido, por isso não demonstrou muito interesse em nós. Tudo é possível, mas duvido que ela nos comesse. Eu estava muito perto e podia inclusive ter tocado nela, se quisesse”, explicou Banfi à imprensa internacional.


Durante a sua viagem pelo Mato Grosso do Sul, o fotógrafo viu e fotografou seis tipos diferentes de anacondas. “No início tive medo, porque não conhecia o animal e todos diziam que era perigoso. Mas depois comecei a perceber que nada acontece se respeitarmos a cobra. Nunca tinha estado tão perto de uma cobra destas, mas acho que uma cobra pequena e venenosa mete mais medo que estas”, explicou.
 



As fotos são de Franco Banfi para a Solent News...



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