Malangatana Valente Ngwenya nasceu a 6 de Junho de 1936, em Matalana, próximo do Maputo, Moçambique.
Filho de camponeses, foi pastor na sua infância.
É considerado por muitos, não só o maior pintor actual de Moçambique, como de África.
Com uma vastíssima obra, Malangatana, efectuou a primeira exposição individual, em 1961, no Maputo, e a primeira aparição pública foi numa colectiva em 1959, também nesta cidade, desde então nunca mais deixou de produzir.
Pintura, desenho, aguarela, gravura, cerâmica, tapeçaria, escultura, murais, de tudo tem experimentado.
Poeta, dançarino, actor, cantor, instrumentista e animador sócio cultural.
A Coruja
A coruja agoira-me
e diz-me que nunca chegarei
além onde o desejo me leva
e assim evapora-se o sonho;
O tambor foi tocado
na noite densa do feitiço
enquanto Kokwana* Muhlonga
apitava o Kulungwana* mortal;
Na noite sem estrelas
dois gatos pretos iluminaram a cabana da Kokwana Hehlise
que morreu depois dos gatos terem miado.
Eu lutando comigo só
é impossível vencer as ondas
que feitiçeiramente me esboçam
as corujas, gatos e tambores.
Poema de Malangatana
Descobre a pintura e, graças a apoios recebidos, pode-se-lhe dedicar por inteiro.
Os seus trabalhos são expostos no estrangeiro (Nigéria, Salisbúria, Cidade do Cabo) e a sua obra consolida-se. Passa ano e meio nas prisões coloniais por motivos políticos. Pouco tempo depois vai até Lisboa com uma bolsa de estudo e ai efectua duas exposições em simultâneo.
Amor Verde
Porque o amor não é sempre verde
que bom quando verde é
nem quero que mudes de cor
ó amor verde, verde, verde
ele é tão bom, bom, bom
Na cama quando passei a primeira noite
senti-me feliz quando corria dentro dela
a lágrima que nos fez amigos infinitos
porque dela veio quem nos chama: Papá e Mamã
o nosso primeiro filho, tão lindo, lindo.
Poema de Malangatana
Após, a Independência envolve-se na actividade politica, pelo que o ritmo da sua criação diminui. Em 1981 volta-se de novo quase por inteiro para a sua obra.
Em 1986, uma retrospectiva dos seus trabalhos é realizada em Maputo e que, reduzida, é exposta em vários países europeus.
Pensar alto
Sim
às marrabentas
às danças rituais
que nas madrugadas
criam o frenesi
quando os tambores e as flautas entram a fanfarrar
fanfarrando até o vermelho da madrugada fazer o solo sangrar
em contraste com o verdurar das canções dos pássaros
sobre o já verduzido manto das mangueiras
dos cajueiros prenhes
para em Dezembro seus rebentos
dançarem como mulheres sensualíssimas
em cada ramo do cajual da minha terra
mas, sim ao orgasmo
das mafurreiras
repletas de chiricos
das rolas ciosas pela simbiose que só a natureza sabe oferecer
mas sim
ao som estridente do kulunguana
das donzelas no zig-zague dos ritos
quando as gazelas tão belas
não suportam mais quarenta graus à sombra dos canhueiros em flor
enquanto as oleiras da aldeia, desta grande aldeia Moçambique
amassam o barro dos rios
para o pote feito ser o depositário
de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando
ecoosamente com os tambores do meu ontem antigo.
Poema de Malangatana
Em 1989 uma retrospectiva, de maior importância constituída por todo o acervo conseguido reunir até hoje - mais de 300 obras -, é levada a efeito em Lisboa numa organização conjunta de Moçambique e Portugal.
Artista reconhecido pelo mundo, os convites para a sua participação sucedem-se: ou para fazer parte da exposição "Artistas do mundo contra o "Apartheid"; para, em vários anos, integrar o júri do principal evento na área das Artes Plásticas do Zimbabwe, o "Heritage"; ou, para uma movimentação das Mulheres Socialistas da Áustria; uma digressão par universidades dos Estados Unidos proferindo palestras, ou ainda o apresentar duma.
· 1959 - Participa em três exposições colectivas
· 1961 - Individual
· 1962/64 - Participa em colectivas em Moçambique, Africa do Sul, Angola, França, Índia, Inglaterra, Nigéria, Paquistão e Rodésia. Individual de desenho na GNU, Nova Iorque.
· 1966/70 - Participa em colectivas em Moçambique, Inglaterra e Senegal. Individual em Moçambique.
· 1971 - Bolseiro da Fundação Gulbenkian em cerâmica e gravura,
· 1972 - Dupla individual simultânea em Lisboa e de desenho, cerâmica e gravura,
· 1973/74 - Participa em colectivas em Moçambique, Lisboa, Nova Iorque, Soweto e Washington. Individual de desenho em Portugal.
· 1975/84 - Participa em colectivas em Moçambique, Angola, Brasil (tapeçaria), Bulgária, Cuba, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Nigéria, Portugal, ex-ADA, Suécia, ex-URSS e Zimbabwe.
· 1984 - Exposição com 0 escultor Chissano,
· 1985 - Individual de pintura e Individual de desenho,
· 1986 - Retrospectiva
· 1987/89 - A retrospectiva (versão reduzida) e exposta na Bulgária e na Áustria. Participa em colectivas em Moçambique, Inglaterra, Noruega e Suécia. Exposição com 0 escultor Chissano em Ankara.
· 1989 - Retrospectiva em Lisboa.
· 1990 - Individual de desenho
· 1991 - Participa em colectivas
Está representado para além do Museu Nacional de Arte de Moçambique, em vários outros museus e galerias nacionais em Angola, Portugal, Índia, Nigéria e Zimbabwe e em colecções públicas e particulares de inúmeros países como Cabo Verde, Nigéria, Bulgária, Suiça, Estados Unidos, Uruguai, Índia e Paquistão.
· Menção Honrosa, "I Concurso de Artes Plásticas", Lourenço Marques, 1959;
· 1.° Prémio de Pintura "Comemorações de Lourenço Marques", 1962;
· 2.° Prémio de Pintura (ex-aequo), "Comemorações do 24 de Julho", 1958;
· Diploma e Medalha de Prata da Academia Tomase Campanella de Artes e Ciências, 1970;
· Medalha Nachingwea pela contribuição dada a Cultura Moçambicana, 1984;
· Prémio Associação Internacional dos Críticos de Arte (Lisboa), 1990.
Texto: Mário Nunes