Os homens são do tamanho dos valores que defendem. Aristides de Sousa Mendes foi, talvez por isso, um dos poucos heróis nacionais do século XX e o maior símbolo português saído da II Guerra Mundial.
Salazar ordena aos cônsules portugueses espalhados pelo mundo que recusem conferir vistos às seguintes categorias de pessoas: "estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio; os apátridas; os judeus, quer tenham sido expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos".
Em 1940, quando era cônsul em Bordéus, Aristides Sousa Mendes protagonizou a "desobediência justa".
Não acatou a proibição de Salazar de se passarem vistos a refugiados: transgrediu e passou 30 mil, sobretudo a judeus.
Nesse mesmo ano, o governo francês refugiou-se temporariamente em Bordéus, fugindo de Paris antes da chegada das tropas alemãs. Milhares de refugiados que fogem do avanço Nazi dirigiram-se a Bordéus. Muitos deles afluem ao consulado português desejando obter um visto de entrada para Portugal ou para os Estados Unidos, onde Sousa Mendes, o cônsul, caso seguisse as instruções do seu governo distribuiria vistos com parcimónia.
Aristides decide entregar um visto a todos os refugiados que o pedirem: "A partir de agora, darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião". Com a ajuda dos seus filhos e sobrinhos, ele carimba passaportes, assina vistos, usando todas as folhas de papel disponíveis.
Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, ele terá dito: "Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus".
Apesar de terem sido enviados funcionários para trazer Aristides, este lidera com a sua viatura uma coluna de veículos de refugiados e guia-os em direcção à fronteira, onde do lado espanhol não existe qualquer telefone. Por isso mesmo, os guardas fronteiriços não tinham sido ainda avisados da decisão de Madrid de fechar as fronteiras com a França. Sousa Mendes impressiona os guardas aduaneiros, que acabariam por deixar passar todos os refugiados, que com os seus vistos puderam continuar viagem até Portugal.
O governo de Salazar, puniu Sousa Mendes, pai de uma família numerosa, privando este do seu emprego diplomático por um ano, diminui em metade o seu salário, antes de o enviar para a reforma. Após, Sousa Mendes perde o direito de exercer a profissão de advogado. A sua licença de condução, emitida no estrangeiro, é-lhe retirada.
Foi demitido compulsivamente. A sua vida estilhaçou-se por completo. "É o herói vulgar. Não estava preso a causas. Estava preso a uma questão fundamental: a sua consciência", afirma o jornalista Ferreira Fernandes.
O cônsul demitido e sua família sobrevivem graças à solidariedade da comunidade judaica de Lisboa, que facilitou a alguns dos seus filhos os estudos nos Estados Unidos.
Ele frequentou, juntamente com os seus familiares a cantina da assistência judaica internacional, onde causou impressão pelas suas ricas vestimentas e sua presença. Certo dia, teve de confirmar: "Nós também, nós somos refugiados".
Em 1945, Salazar felicitou-se por Portugal ter ajudado os refugiados, recusando-se no entanto a reintegrar Sousa Mendes no corpo diplomático.
A sua miséria será ainda maior: venda dos seus bens pessoais, morte da sua esposa em 1948 e emigração dos seus filhos.
Aristides de Sousa Mendes faleceu na miséria a 3 de Abril de 1954.
Portugal ainda não fez o trabalho de casa em relação ao homem - Aristides Sousa Mendes, que salvou mais gente durante a II Grande Guerra Mundial
A acção do cônsul que salvou milhares de pessoas dos nazis é recuperada na Rede.
Descubra mais sobre Aristides Sousa Mendes no Museu Virtual em
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