domingo, outubro 24, 2010

O Anjo Branco

Foto: http://ma-schamba.com/

As fotografias do massacre de Wiriyamu, perpetrado em Moçambique por comandos portugueses em Dezembro de 1972, foram pela primeira vez divulgadas em público este sábado, dia 23 de Outubro, pelas 17h00, na Sociedade de Geografia de Lisboa, concretamente durante a cerimónia de apresentação do novo romance de José Rodrigues dos Santos, «O Anjo Branco», editado pela Gradiva.

O massacre de Wiriyamu foi um dos lados negros da Guerra Colonial e da História portuguesa, sendo referenciada inclusive pelo jornal The Times e na generalidade da imprensa internacional. No entanto, nunca foi publicada qualquer fotografia da tragédia, algo que será reposto na apresentação de «O Anjo Branco».

José Rodrigues dos Santos quis escrever "um romance como nunca tinha sido escrito sobre a guerra colonial e os portugueses em África" e o resultado é "O anjo branco", inspirado na história do pai, livro desde ontem nas livrarias.

O protagonista do oitavo romance de Rodrigues dos Santos chama-se José Branco, um médico que foi viver para Moçambique na década de 1960 e que, perante as enormes carências sanitárias do país, criou o revolucionário Serviço Médico Aéreo, deslocando-se num pequeno avião, o que lhe valeu o epíteto de "anjo branco", por descer do céu vestido de branco. "Inspirei-me no meu pai: o romance conta a história de um médico que é punido pela administração colonial e enviado para Tete, um sítio perdido no coração de África conhecido por "o cemitério dos brancos"", disse o autor, em entrevista à Lusa.

"Sob a responsabilidade do médico fica um território em Moçambique com o tamanho de Portugal continental. E, para dificultar ainda mais as coisas, começa entretanto a guerra. Como lidar com a situação? Este foi o cenário que o meu pai enfrentou em Moçambique e é aquele que se depara diante da personagem principal de "O anjo branco"", revelou.

O escritor e jornalista da RTP, de 46 anos, decidiu contar esta história inspirada em factos reais, que lhe exigiu "muita investigação" - teve de "conversar com imensa gente, ver muita documentação e visitar por duas vezes os locais da acção em Moçambique" -, por considerar que "estava por escrever o grande romance português sobre a Guerra Colonial. Fico com a impressão de que a literatura que se produziu sobre o assunto é complexada e colorida ideologicamente, com "bons" de um lado e "maus" do outro, ou, então, é bacocamente saudosista", defendeu.

"Quis fugir a esses dois registos - sublinhou -, quis escrever um romance descomplexado que mostrasse as grandezas e as misérias e também as contradições da nossa presença em África. Quis, sobretudo, escrever um romance como nunca tinha sido escrito sobre a guerra colonial e os portugueses em África".


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