Partilho com vocês um artigo
do jornal Público,
cuja leitura me deixou com um pé atrás:
“Daniel Erk, que documenta
num blogue menções ao antigo ditador na cultura popular, diz que está farto de
ver publicidade com o führer nos mais variados países.
O bigode de Hitler, o
penteado, o seu queixo levantado e a sua voz aguda: perfeito para publicidade?
Sim e não, diz o alemão Daniel Erk, que há cinco anos segue aparições de Hitler
enquanto figura de cultura popular. Por um lado, ao escolher Hitler, é
garantido que se vai conseguir atenção - como aconteceu esta semana com um
anúncio a um champô turco. Por outro lado, é certo que esta atenção se vai
centrar na figura e na polémica, e ninguém se vai lembrar do produto, garante
Erk.
O autor do Hitlerblog, em
que documenta presenças de Hitler ou de nazis na cultura popular, seja em
projectos de arte na Alemanha ou música pop na Tailândia, contou ao jornal
PÚBLICO o que lhe passa pela cabeça de cada vez que vê um anúncio com o antigo
ditador alemão. "Imagino uma sala com criativos da agência e a conversa
que terão tido: "Vamos pôr o Hitler a fazer isto ou aquilo", e os
outros a dizerem "sim, sim, isso é boa ideia". É-me difícil de
admitir que ninguém na sala levante fortes objecções e que não se
desista."
Neste mais recente anúncio,
o ditador alemão fala no seu habitual tom zangado, gritando num comício:
"Se não veste roupas de mulher, porque usa champô de mulher?", para
depois indicar a alternativa, um champô "para homens a sério".
"Quem fez esse anúncio tem uma percepção estranha da História e da figura
de Hitler", critica Daniel Erk. A apresentação do líder nazi como alguém
especial é enganadora, defende: "Ele era uma pessoa normal que beneficiou
de uma série de circunstâncias históricas. Não era um Super-Homem."
A vitória da propaganda
De um certo modo, tudo isto
é fruto, ainda, da máquina de propaganda nazi. Daniel Erk nota que não há uma
vaga de aproveitamento de imagens de Mussolini, embora já tenha havido anúncios
com outros chamados super-heróis negativos, como Bin Laden ou Mao Tsetung.
Hitler tem traços especiais: por isso aparecem imagens de gatos, peixes, ou até
casas parecidos com ele. "Isso não é coincidência", diz Erk: tudo
isso se deve ao emprego de técnicas de marketing modernas pelos nazis.
"O bigode, o penteado,
tudo foi pensado para chamar a atenção, para ser marcante." Ainda hoje é.
Embora Daniel Erk se apresse a sublinhar que, obviamente, não resulta em termos
ideológicos - ninguém vai olhar para estes anúncios e sentir uma afinidade com
os ideais nazis. Mas "passa a ideia de que ele era uma pessoa
especial".
No blogue de Daniel Erk (que
é publicado no site do diário Tageszeitung, mais conhecido por TAZ, de
esquerda), há vários exemplos de anúncios e, no seu livro So Viel Hitler War
Selten (qualquer coisa como Raramente Houve Tanto Hitler, em tradução livre,
publicado em Janeiro), tem um capítulo dedicado exclusivamente à publicidade.
Hitler vende pizza ("É
possível fazer com que as pessoas acreditem que o céu é o inferno", diz um
Hitler segurando numa fatia da cadeia Hell"s pizza, a pizza do inferno) ou
chá (mais uma vez, a Turquia, onde Hitler é apresentado como um hippie -
"Faz a paz com o mundo", dizia o líder alemão, transformado pelo chá
de rosa do anúncio).
A figura do antigo ditador
nazi também já foi usada por activistas: uma campanha da organização de defesa
dos animais PETA comparava a busca da raça pura dos nazis à manipulação da raça
pelos criadores de cães. Na Alemanha, nas poucas vezes que apareceram
referências a Hitler em publicidade, uma foi num anúncio a preservativos (um
espermatozóide com o bigode e penteado de Hitler, acompanhado pela mensagem:
"Usa preservativo e certifica-te de que não vais trazer o próximo Hitler,
Bin Laden ou Mao Tsetung ao mundo"). No mesmo ano, numa campanha por sexo
protegido - em que se vê um casal num acto sexual, e quando a câmara revela que
o homem era Hitler -, A sida é um assassino em massa era o slogan. As
organizações de apoio a doentes com sida criticaram o anúncio, por ser ofensivo
para os seropositivos.
Mas Daniel Erk não consegue
apontar um anúncio de que goste. "Haverá exemplos mais ou menos. Mas o
único de que me lembro é um do canal História. Mostrava Mugabe e Hitler e dizia
qualquer coisa como: infelizmente, a história repete-se no History
Channel". É um anúncio "aceitável", declara Erk. "Usar
Hitler para vender vinho não é."Num mundo em que a ideia de fazer humor
com Hitler já não é polémica (basta ver o número incrível de vezes que cenas do
filme A Queda estão na Internet, com Hitler a expressar raiva seja por uma nova
alteração no Facebook ou por uma escolha de um treinador de futebol), Erk
queixa-se dos efeitos perversos da "banalização do mal". O que
sobrevive são os clichés, ainda mais numa geração que verá mais Hitler em clips
do YouTube do que ouvirá histórias de quem viveu sob o regime nazi.
Daniel Erk afasta a ideia de
dedicar uma boa parte da sua vida profissional a Hitler (é freelancer e já
trabalhou para várias publicações, desde a revista Der Spiegel ao site do
jornal Die Zeit). Ironicamente, a ideia do livro surgiu quando ele propôs ao
seu editor acabar com o blogue. "Não o quero continuar mais. Sinto que se
está a repetir", desabafa. "Ao início, poderia ainda achar alguma
piada ao absurdo, simplesmente pelo absurdo", diz. Mas agora já não há
sequer o prazer da surpresa: "Já espero ver o Hitler em qualquer lado.
Raramente tenho o prazer de encontrar algo interessante por acaso."
Os primeiros anúncios
deixaram Daniel Erk "confuso e chocado". "Agora é só uma
repetição. São demasiadas repetições."”
3 comentários:
Caro Mário Nunes
Vou lançar aqui no teu blogue a seguinte idéia.
Como se aproxima o 25 de abril, porque não convocar atraves da net, criando no facebook uma página, uma convocatória para afrontarmos os palhaços que nos desgovernam no dia da liberdade.
Tanto na AV. DA LIBERDADE, ou na ASSEMBLEIA DOS PALHAÇOS DEPUTADOS, ou caso o ANIBAL SE ESCONDA EM BELEM na frente da casa dele, uns bons milhares de PORTUGUESES COM COLHÕES PRETOS, A GRITAREM A plenos pulmões os nomes deles , e a chama-los de LADRÕES COMO MERECEM SER CHAMADOS.
Fica aqui a idéia, me retorne se achar conveniente.
Um abraço.
Ramiro Lopes Andrade
Pertinente posição.
O raio da amnésia colectiva é que é tramada! Essa é que é essa! E enquanto se riem da figura de palhaço do ido ditador, está um na forja que vai fazer deste um anjinho daqui a uns tempos! Tirano, palhaço e anjo... quer melhor, Mário?!
Devemos tudo isso à amnésia colectiva...
Um abraço
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