sexta-feira, outubro 12, 2012

Opera Buffa no Pateo da Galé


O burlesco tomou conta das nossas vidas. Ri a bom rir, no passado dia 5 de Outubro (faz hoje precisamente uma semana), com a transmissão televisiva das cerimónias do Dia da República, no Canal 1 da RTP.

Por certo, as últimas a terem lugar…





Aquele directo fez-me lembrar Antonioni e Fellini.
Belisquei-me, estaria a sonhar!?
Momento delirante e único em 102 anos de História foi o içar da bandeira nacional na varanda dos Paços de Concelho e então quando esta foi içada ao contrário, parecia que a pátria tinha sido tomada pelo inimigo.
Estranhamente, os políticos e os convidados recolheram ao interior do Edifício da Câmara, a um espaço contiguo (que era um parque de estacionamento dos Correios) onde só se entrava com convite.
Mas o que é isto? – Pensei alto.
A cerimónia era popular  e agora estava reservada unicamente a convidados num espaço chique e renovado, o Pateo da Galé.
Num espirito contrario à República…




Sentados estavam os convidados e a clique do Sistema, políticos de agora e de outrora e diplomatas acreditados em Lisboa, numa cerimónia reservada às elites e às escondidas do povo.
Perturbador foi o discurso de António Costa (Presidente do município lisbonense e figura de proa do PS), provavelmente fadado a outros voos que foi bastante aplaudido, perante a indiferença de Aguiar Branco (Ministro da Defesa Nacional), que nem se mexeu…
Seguiu-se o discurso da múmia, verdadeiramente rebuscado e fora de contexto, completamente démodé, quando se ouvem vozes de fundo, uma mulher chorosa do povo, gritava desesperada por cima das palavras do presidente, sufocada estava com a sua magra reforma de 227 Euros.




Num excesso de zelo, quatro musculados seguranças, rodeiam a mulher e colocam-na fora de contexto, perante a indiferença e desprezo de tal gente ilustre.
Quase simultaneamente, Ana Maria Pinto, cantora lírica brindava a plateia com “Firmeza”, de Fernando Lopes Graça, enquanto o Presidente abandonava apressadamente a cerimónia.
Com o cair do pano, algumas insignes criaturas, descascaram a bom descascar em António Costa, se aquilo era coisas que se fizessem.
Enquanto isso Nuno Magalhães do CDS e Jorge Moreira da Silva do PSD, gratas personagens repudiavam o que se tinha passado com arrogância e altivez.
Um grande plano mostra por último os carros dos poderosos a abandonarem o cenário, enquanto as barreiras policiais mantinham o povo à distância e os snipers vigiavam os telhados, não fosse aparecer por ali o fantasma de Manuel Buiça.

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