O burlesco tomou conta das
nossas vidas. Ri a bom rir, no passado dia 5 de Outubro (faz hoje precisamente
uma semana), com a transmissão televisiva das cerimónias do Dia da República,
no Canal 1 da RTP.
Por certo, as últimas a
terem lugar…
Aquele directo fez-me
lembrar Antonioni e Fellini.
Belisquei-me, estaria a
sonhar!?
Momento delirante e único em
102 anos de História foi o içar da bandeira nacional na varanda dos Paços de
Concelho e então quando esta foi içada ao contrário, parecia que a pátria tinha
sido tomada pelo inimigo.
Estranhamente, os políticos e
os convidados recolheram ao interior do Edifício da Câmara, a um espaço
contiguo (que era um parque de estacionamento dos Correios) onde só se entrava
com convite.
Mas o que é isto? – Pensei alto.
A cerimónia era popular e agora estava reservada unicamente a
convidados num espaço chique e renovado, o Pateo da Galé.
Num espirito contrario à
República…
Sentados estavam os
convidados e a clique do Sistema, políticos de agora e de outrora e diplomatas
acreditados em Lisboa, numa cerimónia reservada às elites e às escondidas do
povo.
Perturbador foi o discurso
de António Costa (Presidente do município lisbonense e figura de proa do PS),
provavelmente fadado a outros voos que foi bastante aplaudido, perante a
indiferença de Aguiar Branco (Ministro da Defesa Nacional), que nem se mexeu…
Seguiu-se o discurso da
múmia, verdadeiramente rebuscado e fora de contexto, completamente démodé,
quando se ouvem vozes de fundo, uma mulher chorosa do povo, gritava desesperada
por cima das palavras do presidente, sufocada estava com a sua magra reforma de
227 Euros.
Num excesso de zelo, quatro
musculados seguranças, rodeiam a mulher e colocam-na fora de contexto, perante
a indiferença e desprezo de tal gente ilustre.
Quase simultaneamente, Ana
Maria Pinto, cantora lírica brindava a plateia com “Firmeza”, de Fernando Lopes
Graça, enquanto o Presidente abandonava apressadamente a cerimónia.
Com o cair do pano, algumas
insignes criaturas, descascaram a bom descascar em António Costa, se aquilo era
coisas que se fizessem.
Enquanto isso Nuno Magalhães
do CDS e Jorge Moreira da Silva do PSD, gratas personagens repudiavam o que se
tinha passado com arrogância e altivez.
Um grande plano mostra por
último os carros dos poderosos a abandonarem o cenário, enquanto as barreiras
policiais mantinham o povo à distância e os snipers vigiavam os telhados, não
fosse aparecer por ali o fantasma de Manuel Buiça.
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