A tragédia de Fukushima Daiichi, por certo que ficará marcada para sempre em caracteres japoneses, na História da Humanidade e do planeta Terra uma vez que não há como conter a água dos reactores, os gases que escaparam para a atmosfera.
Eventualmente a esta hora, o núcleo dos reactores poderá ter entrado em fusão e não haverá como trava-los. A contaminação é evidente:
“A empresa Tokyo Electric Power Company (Tepco) – operadora da central – anunciou hoje ter encontrado água com radioactividade superior a 1000 milisieverts por hora num poço de observação de uma galeria subterrânea de cabos eléctricos. O limite da radiação considerado aceitável para os trabalhadores que estão a tentar conter o desastre nuclear é de 250 milisieverts por ano.
Os poços de observação ficam a algumas dezenas de metros do mar, no exterior do edifício que contém o reactor 2 da central. “Estamos a verificar se a água poderá ter entrado em contacto directo com o mar”, disse um porta-voz da Tepco, citado pela Agência France Presse (AFP).
A descoberta é mais um contratempo da Tepco na luta para tentar controlar a situação de Fukushima, fortemente afectada pelo sismo e tsunami de 11 de Março no Japão. No domingo, a empresa detectara água fortemente radioactiva no edifício da turbina do reactor 2. Inicialmente, a empresa avançou que a concentração de elementos radioactivos era dez milhões de vezes mais elevada do que o normal.
Mas horas depois, a Tepco convocou, de urgência, uma conferência de imprensa para admitir que se tinha enganado no número. O vice-presidente da empresa, Sakae Muto, explicou que os elementos radioactivos foram confundidos durante a análise às amostras recolhidas. "Houve uma confusão entre o iodo-134 e o cobalto-56", disse Muto. De qualquer forma, a radioactividade da água no edifício da turbina é 100 mil vezes superior ao normal.
O Governo japonês qualificou, hoje, o erro da Tepco como “absolutamente inaceitável”. “Sabendo que a monitorização da radioactividade é uma condição essencial para assegurar a segurança, este tipo de erro é absolutamente inaceitável”, disse hoje o ministro porta-voz do Governo japonês, Yukio Edano.
A Agência de Segurança Industrial e Nuclear do Japão acredita que os níveis elevados de radioactividade no edifício da turbina devem-se a uma fuga da água que esteve em contacto com combustível fundido no interior do reactor 2.
Em dois outros reactores – 1 e 3 – também foi encontrada água contaminada no subsolo dos edifícios das turbinas, mas com menores níveis de radioactividade.
Remover esta água radioactiva é uma das principais preocupações, neste momento, na luta contra o desastre nuclear de Fukushima – ainda mais agora que se detectaram níveis elevados de radioactividade em água fora dos edifícios da central. No mar, as análises continuam a indicar também presença de elementos radioactivos. As mais recentes, efectuadas ontem e divulgadas hoje pela Tepco, apontam para concentrações de iodo radioactivo 1150 mais elevadas do que o normal, em amostras colectadas a 30 metros das saídas de água da central.
No reactor 1, conseguiu-se restabelecer um sistema de circulação, permitindo iniciar a drenagem da água radioactiva. Nos reactores 2 e 3, não foi possível ainda fazer o mesmo.
Repor em funcionamento os sistemas eléctricos da central continua a ser outra prioridade. Embora haja já luz nas salas de comando – onde até à semana passada as equipas técnicas trabalhavam às escuras, com lanternas –, ainda não estão em operação muitos equipamentos essenciais para monitorizar os dados dos reactores, como a sua temperatura e pressão interna.
Água doce começou a ser injectada sábado nos reactores, para evitar que o sal da água do mar utilizada durante vários dias forme cristais sobre as barras de combustível, dificultando o seu arrefecimento. Hoje, a Tepco espera fazer o mesmo nas piscinas de combustível nuclear usado. O nível de radioactividade no mar ao largo da central nuclear de Fukushima Daiichi subiu 1250 vezes acima do limite de segurança, depois de duas semanas de crise naquela central de seis reactores.
Os níveis de iodo-131 em excesso foram detectados ontem na água do mar, 330 metros a Sul da central, informou a Agência japonesa de Segurança Nuclear, citada hoje pela estação de televisão japonesa NHK. Este é o valor de radioactividade mais elevado detectado no mar junto a Fukushima desde que as medições começaram, esta semana. Na terça-feira, os níveis de iodo radioactivo eram 126 vezes superiores ao limite fixado pelo Governo nipónico no Oceano Pacífico.
A Tepco ainda mediu a concentração de césio-137 e encontrou uma concentração quase 80 vezes superior ao limite legal.
A central estima que água radioactiva de um dos reactores da central pode estar a infiltrar-se no subsolo e a chegar ao mar.
A agência garante que a radioactividade na água do mar não representa uma ameaça imediata para as pessoas que vivem num raio de 20 quilómetros, até porque as correntes marinhas ajudam a dispersar o iodo e a diminuir os níveis de contaminação. Os materiais radioactivos já terão sido diluídos "significativamente" quando forem ingeridos pelas espécies marinhas, acrescenta a agência. A actividade pesqueira está suspensa naquela zona.
Olivier Isnard, especialista do Instituto de Radioprotecção e Segurança Nuclear (IRSN) ouvido pela agência AFP, está preocupado. "A água altamente radioactiva escorre dos edifícios da central e regressa ao mar, o que é preocupante para os peixes e algas". Ainda assim, a quantidade de radioactividade absorvida pelas algas e animais marinhos pode ser menor se as marés conseguirem diluir o iodo.
Hoje, o porta-voz do Governo, Yukio Edano, disse em conferência de imprensa que é difícil prever quando é que a crise na central de Fukushima vai acabar. "Estamos a tentar evitar que a situação piore", citou a agência de notícias japonesa Kyodo.
A corrida contra o tempo continua na central nuclear, onde cerca de 300 engenheiros trabalham em turnos para estabilizar os seis reactores, danificados pelo sismo de magnitude 9,0 e tsunami de 11 de Março. Mas, várias vezes, as operações na central foram interrompidas por picos de radioactividade e dificuldades técnicas.
Hoje está a ser injectada água doce, em vez de água salgada, no edifício do reactor 2. A medida foi tomada para evitar a acumulação de sal no interior do reactor, o que poderia dificultar o arrefecimento da central.
Esta semana, três funcionários a trabalhar num dos edifícios da central, ligado ao edifício onde está o núcleo do reactor 3 - que utiliza plutónio, mais tóxico do que o urânio usado nos outros cinco reactores - foram expostos a água, com um nível de 15 centímetros, com materiais radioactivos 10.000 vezes superior aos níveis normais no interior de um reactor nuclear. Isto corresponde a 3,9 milhões de becquerels de substâncias radioactivas por centímetro cúbico, explicou a estação de televisão japonesa NHK.
Dois deles foram hospitalizados devido a possíveis queimaduras nos pés causadas pela radiação, informou a operadora da central, Tepco (Tokyo Electric Power Company), citada pela agência de notícias japonesa Kyodo.” (citando o respeitável jornal Público)
Comentário meu:
Mais grave, foi o monte de asneiras que ouvi na televisão, quando os jornalistas no Jornal da Noite descansaram os telespectadores que a radioactividade se dissiparia…
Meu Deus, quanta ignorância… Como se isso fosse possível?
A título de esclarecimento posso adiantar-vos que a semi-vida dalguns elementos radioactivos é superior a 24.000 anos.
Esclarecidos!?
E as mutações genéticas que sobrevêm?
E o número de cancros a subir em flecha nos próximos anos?
A esta hora, os ecossistemas mais próximos estarão comprometidos e as cadeias alimentares contaminadas da base até ao topo.
Certo, certo é que partículas radioactivas provenientes de Fukushima Daiichi já foram encontradas na China, nos EUA, nos Açores e na Suíça.
O Hemisfério Norte poderá ser duramente afectado devido à circulação atmosférica, já que as partículas resultantes do acidente, não ficam estáticas nem imutáveis no mesmo lugar (deslocam-se por força desta).
Quanto a mim, assim que vi as imagens da explosão, disponíveis neste blogue, disse para mim mesmo: Desta foi a sério! Isto pode ser pior que Chernobyl.
Fukushima Daiichi, uma lição a tirar para todos aqueles que defendem o nuclear (incluindo o nosso Presidente da República).
Nuclear, não obrigada…