É verdade, Cabo Verde e
toda a Lusofonia perderam uma das maiores vozes de sempre.
Cesária Évora
deixou-nos mais tristes este sábado. Morreu com setenta anos no Hospital Baptista
de Sousa, da ilha de São Vicente, onde se encontrava internada desde a passada
sexta-feira. Natural do Mindelo, nasceu no seio de uma família de músicos. Numa das
muitas entrevistas que deu, certa vez, afirmou: "tudo à minha volta era
música". O pai, Justiniano da Cruz, tocava cavaquinho, violão e violino,
instrumentos que se tornaram característicos daquelas ilhas, o irmão, Lela,
saxofone, e entre os amigos contava-se o mais emblemático compositor
cabo-verdiano, B. Leza.
"Cize" como era carinhosamente tratada pelos
amigos, tornou-se no nome mais internacional de Cabo Verde, país de onde o
mundo conhecia já grandes músicos como Luís Moraes e Bana.
Desde cedo que Cesária Évora se lembrava de cantar,
como referiu numa das muitas entrevistas que deu: "Cantava ao ar livre nas
praças da cidade para afastar coisas tristes". Aos 16 anos canta nos bares
das cidade e nos hotéis começando a ganhar uma legião de fãs que a aclamavam já
como
"rainha da morna".
"rainha da morna".
A independência da nação africana, em 1975, coincide
com o início de um "período negro" da cantora que deixa de cantar,
tem problemas com o alcoolismo e trabalha noutra área.
Em 1985 a convite de Bana, proprietário de um
restaurante e uma discoteca com música ao vivo em Lisboa, Cize vem a Lisboa e
grava um disco que passou despercebido à crítica, seguindo para Paris onde é
"descoberta" e daqui, como aconteceu com outros cantores, partiu para
os palcos do mundo.
Em 1988 grava "La diva aux pied nus", álbum
aclamado pela crítica. Nesta fase da sua carreira tem um papel fundamental, que
se manteve até ao final, o empresário francês José da Silva.
Em 1992 Cesária Évora gravou "Miss
Perfumado" e aos 47 anos torna-se uma "estrela" internacional no
mundo da world music, fazendo parcerias com importantes músicos e pisando os
mais prestigiados palcos.
Uma carreira internacional que passou várias vezes por
palcos portugueses cujas salas esgotavam para ouvir, entre outros êxitos,
"Sôdade".
Em 2004 recebeu um Grammy para o Melhor Álbum, de
world music contemporânea pelo disco "Voz d'Amor". "Cize"
não pára e continua em sucessivas digressões, regressando de quando em vez à
sua terra natal.
"Eu preciso de quando vez da minha da terra, do
povo que sou e desde marulhar das ondas", confidenciou certa vez à Lusa.
A cantora começa a enfrentar vários problemas de saúde
e alguns "sustos" como afirmava, mas regressava sempre aos palcos e
aos estúdios com alegria.
Cesária voltou aos estúdios e anunciou não só uma
digressão como a gravação de um novo que deveria sair no próximo ano.
No dia 24 de Setembro numa entrevista ao Le Monde a
cantora afirma que tem de terminar a carreira por conselho médico. A sua
promotora, Tumbao, emite um comunicado confirmando as declarações da "diva
dos pés descalços", e dando conta da tristeza que sentia por ter de o
fazer. Nesse mesmo dia ao princípio da tarde a cantora é internada no hospital
parisiense de Pitie-Salpetriere, por ter sofrido "mais um acidente
vascular cerebral (AVC)". A Tumbao emitiu nesse mesmo dia um comunicado
dando conta que o diagnóstico clínico da mais internacional artista
cabo-verdiana era "reservado".
Ao longo da
carreira, além das inúmeras digressões e actuações em televisões, gravou 24
álbuns, um DVD, "Live in Paris", e registou dezenas de colaborações
em discos.
A cantora cabo-verdiana
será sempre lembrada como a diva que levou a música de Cabo Verde ao Mundo.
Verdadeira força da natureza rude e selvagem das ilhas estéreis e desertas.
Cesária Évora era mais
que a voz da Diáspora, para todos aqueles que gostam de world music e da música
não comercial. Cesária era a voz quente da Terra, era muito mais que a voz das
ilhas do Atlântico.
Era a Voz de todos nós!
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