sábado, janeiro 14, 2012

Na Terra dos Marajás



Não, não estou em Goa, nem em qualquer estado da União Indiana, onde uma pequena minoria vive rodeada de todos os luxos e mordomias proporcionadas pelos seus concidadãos.
Por estranho que pareça falo-vos de Portugal, um pequeno país, da Europa dita periférica, que deu novos mundos ao mundo, mas depois de quarenta anos de ditadura, ocorreu uma revolução de cravos, onde praticamente não houve mortos, conheceu a Democracia e o estado social inspirado nalgumas vivências do Norte da Europa.
Com o desenrolar dos anos, os mesmos de sempre foram-se alternando no poder, tendo os Senhores de Outrora regressado do exílio dourado, que Abril lhes impôs e tocado os seus negócios para a frente. Na década de 90 Portugal parecia um país perfeito, onde tudo parecia funcionar…
Entretanto, começaram a fechar empresas ditas estratégicas, em sectores vitais tais como por exemplo: a metalomecânica (Siderurgia Nacional, Sorefame), a indústria de construção naval (Lisnave, Setnave, Estaleiros de Viana), o pretexto na altura foi que estavam ultrapassados, depois, uma a uma, noutros sectores, as fábricas foram fechando por esse país fora, nada escapava. As fábricas fecharam, passamos a comprar aos chineses. E o mesmo está a passar-se por toda a Europa.
Em seguida seguiu-se a agricultura, nos campos, a Europa dita amiga e comunitária pagava para arrancar oliveiras e vinhas e para não produzir, fechou lagares e os campos pouco atractivos foram abandonados pelos mais novos, os mais velhos morriam e o saber perdeu-se…
Nessa altura proliferou em Portugal uma estranha cultura de jeeps, moradias e autoestradas.
No comércio, as grandes superfícies esmagaram tudo e todos, nada escapando, nem mesmo, as pequenas mercearias de bairro, que vendiam outrora fiado. Os pequenos negócios que subsistiam noutros tempo fecharam em nome da segurança alimentar e dum fascismo económico.
E agora chegou a vez dos serviços…
A palavra de ordem é despedir, tudo fecha neste cantinho da Europa. É mais barato fechar do que pagar rendas e aos empregados.
Será isto sustentável?
Interrogo-me como é possível sem trabalho, sem produção, como podemos andar para a frente?
Como é possível gerar riqueza?
Que país é este?
Como foi possível chegar a este ponto?
Prosseguindo…
Perdoem-me, será viavel conceder rendimentos mínimos ou de inserção, a um largo sector da população, sector esse que nunca produziu ou fomentou riqueza (nada fazendo pela sociedade)?
Será justo para aqueles que ainda trabalham e fazem os seus descontos?
Como é possível se reformarem trabalhadores com 55 anos (ou menos), quando poderiam trabalhar mais dez anos?
Qualquer dia são mais os reformados, que os trabalhadores…
Será que ninguém vê nada?
Como é possível os deputados, os autarcas (presidentes de junta de freguesia, vereadores municipais, presidentes de câmara) e os governantes (secretários de estado, ministros, presidentes da república), depois de dois mandatos de quatro anos (oito anos) aposentarem-se?
Conheço alguns rapazes e raparigas, com 42 e 48 anos, que já estão reformados, acumulando pensões e subvenções…
Isto para não falar em prémios dourados em empresas municipais…
Quantas Assembleias da República pagamos?
Uma dizem vocês, redonda mentira, com aqueles que estão em casa, serão mais de cinco…
Um prémio à sua vida contributiva…
Será justo para os seus pares?
Isto para não falarmos do mais elevado magistrado da nação, que aufere como Presidente da República, tem uma pensão do Banco de Portugal e outra como professor universitário (isto para não falarmos de acções).
Mas, as coisas não ficam por aqui…
Alguns políticos depois dum esforço intenso ao serviço da nação foram premiados pela sua competência com cargos no Banco Central Europeu, na ONU ou até mesmo em grandes companhias multinacionais tais como por exemplo, a EDP, a GALP, a Mota Engil, a CGD e outras.
Na formação académica da maior parte destes senhores(as) não constam conhecimentos em Economia ou Gestão de Empresas. 
O que terá levado ao recrutamento de pessoas tão ilustres?
A sua prestação anterior? 
Os seus relacionamentos? 
Uma troca de favores? 
Um hipotético pagamento? 
Uma sociedade secreta? 
Ou tudo junto?
Nestes negócios escuros que decorrem nos corredores dos palácios dos aereópagos do pensamento, dos modernos centros de decisão, misturam-se estranhas negociatas e negócios obscuros tudo em nome duma oculta fraternidade.
Poderia concluir por aqui, mas não o faço, para contragosto de alguns, enquanto isso a base da pirâmide, cada vez mais está convertida em modernos escravos, quais servos da gleba, esmagados com impostos injustos, empréstimos bancários incomportáveis. Muitos já não sabem o que fazer viram perder o seu emprego, a sua casa, perderam o acesso à saúde, à educação (outrora universais) e até mesmo ao pão.
Agora os mais novos seguem as pisadas dos seus avós emigrando para outras terras, pois este país não é para novos muito menos para velhos.
Enquanto isso, os Senhores do Topo passaram por cima de todas as normas, legais e instituídas (Códigos de Leis e a Constituição da República Portuguesa) que agora apelidam de revolucionária, espezinharam-na e fizeram letra morta de todos os direitos e conquistas dos trabalhadores, alguns dos quais remontam ao inicio da Revolução Industrial, onerando-os com mais horas de trabalho, menos ordenados, menos férias e o não pagamento de horas extraordinárias, retirando-lhes feriados religiosos e civis premiando-os ainda com mais um mês de trabalho.
Tudo em nome da economia, do progresso, será que qualquer dia ainda há Economia e consumo, com tudo fechado?
Os patrões queixam-se e o governo cede…
Será isto, equidade e concertação social?
No entanto a repressão está aí, os poderosos escondem-se atrás da policia num estado totalitário, que começou a ganhar forma.
Algo me diz que tudo poderá descambar, pois estão a brincar com coisas muito sérias. No passado, sim neste mesmo país, já voaram pela janela, condes e ministros, mataram reis e príncipes e fizeram-se revoluções.

Mas a ver vamos, o povo é sereno…

Sobre este mesmo assunto (outra leitura sobre Marajás):

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