O grupo emerge de dentro do mar, num velho tele disco de 1981, gravado na Costa da Caparica, numa soalheira tarde de verão, para o Viva Música de Jaime Fernandes.
Malta à Porta
(L.Cabral / A.Antunes / Topê / R.Madeira / J.Trindade)
Se pensas em andar pela rua à procura do amanhã
Podes ficar bem contigo, mas não és só tu
Não podes ficar preso a uma ilusão
Tens de ter amigos a quem dar a mão
Não queiras assinar documentos em papel molhado
Pois ao fim e ao cabo sais sempre lixado
Tens de fazer força pelo que há-de vir
Abre a tua mente e deixa-te ir
Deixa-te ir
Vejo malta à porta, vejo malta à porta
Há malta à porta, há malta à porta
Os Iodo eram:
Luís Cabral, teclados ARP, sintetizador Roland
Rui Madeira, vocalista e detentor de uma voz singular
Tó Pê, baixo Ibanez e amplificador HH
Alfredo Antunes, bateria irrepreensível
Rui Jorge Trindade, guitarras Gibson e Yamaha
Abre a tua mente...
Formados em Casal do Marco (Almada), uma das mais promissoras bandas do «Boom» do Rock Português dos anos 80, beberam influências nos Genesis, nos Supertramp e em Mike Oldfield e poderiam ter sido um caso sério da música portuguesa.
Conseguem finalmente um contracto discográfico com a Vadeca, subsidiária da Valentim de Carvalho e o seu primeiro registo fonográfico gravado em 1981, o single Malta à Porta, torna-se a música do momento.
Os Iodo correm o país, conquistam os tops, do Rock em Stock ao TNT da Comercial.
Lançam o segundo single «A Canção», com o lado B «Pedro e o Lobo».
Antes de Manicómio, a banda mudou de formação. Para os lugares de António Pedro e Alfredo Antunes entram José Luís e Raul Alcobia.
Apetece ouvir de novo aquelas teclas, a guitarra inebriante, o baixo e a batida diferente daquela bateria, um som inovador e da vanguarda dos anos 80, injustamente apoiados pela sua editora, em especial, após a saída do seu álbum de originais, denominado «Manicómio», um dos melhores álbuns em vinil de 80, injustamente esquecido por tudo e por todos.
Uma verdadeira viagem ou trip.
E sempre aqueles teclados estonteantes...
«(...) Amor à vida que às vezes passa
Para não falar de Ceby, boneca de cera,
Compras ácidos por amor(...)»
Onde todos os sonhos e ilusões ainda eram permitidos.
A crítica da altura deitou abaixo injustamente um dos melhores álbuns e projectos dos anos 80, comparado com outros projectos da mesma altura.
Expiração de um louco, uma verdadeira viagem aos infernos...
Os Iodo eram uma mais valia e tinham um som inovador.
«(...) Não gosto do ruído que doí e magoa
Não gosto do Sol que ri e zomba
Não gosto do movimento que nos obriga e enerva
Só quero para mim um monte de erva(...)»
In Manicómio
As editoras e os empresários vampiros espremeram o fenómeno do rock português até à exaustão e até ao tutano... Não o deixaram amadurecer!
E o meu sonho vai seguindo... Pelos ventos do além....
Algumas das canções que fizeram parte do Manicómio eram: Ceby, Boneca de Cera; Lendas; As Novas das Tesouras Velhas; Foz de um Beijo; Introdução para o Lado B; Ventos do Além; Expiração de um Louco e Deixo-me Ir?
O mercado português é pequeno, mas a nossa língua é a 5ª ou a 6ª falada em todo o mundo e nunca houve uma visão comercial para lançar algumas das nossas bandas na estrada: No Brasil, em Angola ou Moçambique.
É caso para dizer gente de vistas curtas, que tudo fazem para espremer até nada deitar...E o mais curioso muitos dos trabalhos destes artistas só se encontram em vinil, nalgum site mais manhoso, porque em CD não há!
Na década de 80, se existisse internet, a história do rock português poderia ter sido outra...
E por último, para quando a edição de Manicómio em CD?
«(...) Os Iodo puxavam para as teclas, vestiam fatos de plástico, por causa da plastificação da sociedade e encontraram no Manicómio a mais eficaz metáfora, para a realidade social envolvente (...)
in Miguel Cunha, Blitz 425, 22.12.1992
Discografia
Malta à Porta/Aqueles Dias, single, Vadeca, 1981
A Canção/Pedro e o Lobo, single, Vadeca, 1981
Manicómio, LP, Vadeca, 1982
Para lá dos tops , a boa música dos Iodo continuará para sempre presente...
Referências:
Ele e sempre ele,
(http://rockemportugal.blogspot.com),
a bíblia, a fonte, a história incontornável do Rock Português, Aristides Duarte, cronista, prossegue um trabalho ímpar e único no panorama musical português.
A visitar ainda:
http://rockemportugal.blogspot.com
http://ruijorgetrindademusico.blogspot.com
Texto: Mário Nunes
Fotos: Rock em Portugal e Rui Jorge Trindade
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