domingo, junho 10, 2007

Iodo, do Mar para o Rock

O grupo emerge de dentro do mar, num velho tele disco de 1981, gravado na Costa da Caparica, numa soalheira tarde de verão, para o Viva Música de Jaime Fernandes.


Malta à Porta


(L.Cabral / A.Antunes / Topê / R.Madeira / J.Trindade)


Se pensas em andar pela rua à procura do amanhã

Podes ficar bem contigo, mas não és só tu

Não podes ficar preso a uma ilusão

Tens de ter amigos a quem dar a mão



Não queiras assinar documentos em papel molhado

Pois ao fim e ao cabo sais sempre lixado

Tens de fazer força pelo que há-de vir

Abre a tua mente e deixa-te ir


Deixa-te ir


Vejo malta à porta, vejo malta à porta

Há malta à porta, há malta à porta



Os Iodo eram:

  • Luís Cabral, teclados ARP, sintetizador Roland

  • Rui Madeira, vocalista e detentor de uma voz singular

  • Tó Pê, baixo Ibanez e amplificador HH

  • Alfredo Antunes, bateria irrepreensível

  • Rui Jorge Trindade, guitarras Gibson e Yamaha


Abre a tua mente...


Formados em Casal do Marco (Almada), uma das mais promissoras bandas do «Boom» do Rock Português dos anos 80, beberam influências nos Genesis, nos Supertramp e em Mike Oldfield e poderiam ter sido um caso sério da música portuguesa.


Conseguem finalmente um contracto discográfico com a Vadeca, subsidiária da Valentim de Carvalho e o seu primeiro registo fonográfico gravado em 1981, o single Malta à Porta, torna-se a música do momento.

Os Iodo correm o país, conquistam os tops, do Rock em Stock ao TNT da Comercial.

Lançam o segundo single «A Canção», com o lado B «Pedro e o Lobo».

Antes de Manicómio, a banda mudou de formação. Para os lugares de António Pedro e Alfredo Antunes entram José Luís e Raul Alcobia.


Apetece ouvir de novo aquelas teclas, a guitarra inebriante, o baixo e a batida diferente daquela bateria, um som inovador e da vanguarda dos anos 80, injustamente apoiados pela sua editora, em especial, após a saída do seu álbum de originais, denominado «Manicómio», um dos melhores álbuns em vinil de 80, injustamente esquecido por tudo e por todos.

Uma verdadeira viagem ou trip.


E sempre aqueles teclados estonteantes...


«(...) Amor à vida que às vezes passa

Para não falar de Ceby, boneca de cera,

Compras ácidos por amor(...)»

Onde todos os sonhos e ilusões ainda eram permitidos.

A crítica da altura deitou abaixo injustamente um dos melhores álbuns e projectos dos anos 80, comparado com outros projectos da mesma altura.


Expiração de um louco, uma verdadeira viagem aos infernos...

Os Iodo eram uma mais valia e tinham um som inovador.


«(...) Não gosto do ruído que doí e magoa

Não gosto do Sol que ri e zomba

Não gosto do movimento que nos obriga e enerva

Só quero para mim um monte de erva(...)»

In Manicómio


As editoras e os empresários vampiros espremeram o fenómeno do rock português até à exaustão e até ao tutano... Não o deixaram amadurecer!

E o meu sonho vai seguindo... Pelos ventos do além....



Algumas das canções que fizeram parte do Manicómio eram: Ceby, Boneca de Cera; Lendas; As Novas das Tesouras Velhas; Foz de um Beijo; Introdução para o Lado B; Ventos do Além; Expiração de um Louco e Deixo-me Ir?


O mercado português é pequeno, mas a nossa língua é a 5ª ou a 6ª falada em todo o mundo e nunca houve uma visão comercial para lançar algumas das nossas bandas na estrada: No Brasil, em Angola ou Moçambique.

É caso para dizer gente de vistas curtas, que tudo fazem para espremer até nada deitar...


E o mais curioso muitos dos trabalhos destes artistas só se encontram em vinil, nalgum site mais manhoso, porque em CD não há!


Na década de 80, se existisse internet, a história do rock português poderia ter sido outra...

E por último, para quando a edição de Manicómio em CD?

«(...) Os Iodo puxavam para as teclas, vestiam fatos de plástico, por causa da plastificação da sociedade e encontraram no Manicómio a mais eficaz metáfora, para a realidade social envolvente (...)

in Miguel Cunha, Blitz 425, 22.12.1992


Discografia

  • Malta à Porta/Aqueles Dias, single, Vadeca, 1981

  • A Canção/Pedro e o Lobo, single, Vadeca, 1981

  • Manicómio, LP, Vadeca, 1982

Para lá dos tops , a boa música dos Iodo continuará para sempre presente...


Referências:

Ele e sempre ele,

(http://rockemportugal.blogspot.com),

a bíblia, a fonte, a história incontornável do Rock Português, Aristides Duarte, cronista, prossegue um trabalho ímpar e único no panorama musical português.


A visitar ainda:

http://rockemportugal.blogspot.com

http://ruijorgetrindademusico.blogspot.com

http://atrompa.blogspot.com

http://anos80.no.sapo.pt


Texto: Mário Nunes

Fotos: Rock em Portugal e Rui Jorge Trindade

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