A Caçada, de Enki Bilal e Pierre Christin (1983), editado pela Meribérica Liber.
«Habituaste-nos ao poder como à carne sangrenta.», Gyorgy Konràd
A História, em traços largos: 1983, seis anos antes da queda do muro de Berlim, um comboio atravessa o campo coberto de neve, Vassili Alexandrovitch Tchevchenko, veterano da Revolução de Outubro e dignatário da União Soviética, organiza uma caçada na Polónia em Krolówka.
No compartimento vizinho Evgueni Golozov evoca com um jovem quadro do partido (um interprete de francês), o percurso de Tchevchenko, desde o seu primeiro encontro com Lenine, ao apogeu do poder de Estaline.
A traços, intensos, precisos e duros, Bilal percorre a História da URSS, desde a criação de uma nova nação sobre as ruínas do Império dos Czares, passando por Lenine, a subida ao poder de Estaline, à Grande Guerra Heróica contra os invasores alemães, às purgas internas, ao Gulag e ao ambiente sinistro da KGB.
Desembocando na Luta eterna pelo poder na Rússia, esta história percorre diferentes países de Leste, retratando uma dezena de personagens, com responsabilidades no aparelho de estado e um papel importante na edificação do socialismo soviético, destacando as suas funções e privilégios.
As personagens da Caçada são fictícias e representam uma dura realidade. Uma nova elite, uma nova aristocracia toma o lugar dos velhos comunistas…
Um livro verdadeiramente premonitório.
A neve…
As lebres…
Os veados…
Os cães…
Uma mira telescópica…
O sangue tingindo a neve de vermelho…
Enki Bilal (Enes Bilalović) cineasta, desenhador, autor de inúmeras histórias de Banda Desenhada.
Nasceu em Belgrado, Sérvia (antiga Jugoslávia), em 7 de Outubro de 1951, e mudou-se para Paris, com nove anos de idade. Aos 14 anos, conhece Renné Goscinny e Uderzo, autores de Astérix, encorajado a desenhar resolve dedicar-se de alma e coração aos quadradinhos. Começa a trabalhar na revista Pilote, e publica sua primeira história, Le Bol Maudit, em 1972.
A partir de 1975, começou a colaborar com o argumentista Pierre Christin numa série de histórias, de teor surreal e sombrio, enveredando pela ficção científica.
Texto – Mário Nunes
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