A maior sociedade
secreta do mundo...
Um espantoso
documentário que descreve a origem da irmandade, o ritual de iniciação, porque motivo
as reuniões da maçonaria são secretas?
Será que os maçons
querem mesmo dominar o mundo?
O simbolismo maçónico
na nota de 1 dólar e as cerimónias de posse dos presidentes americanos... tudo
isso e muito mais…
A maçonaria já foi
acusada de tudo: fazer rituais sinistros, promover orgias, querer dominar o
mundo... Até de estar por trás dos assassinatos de Jack, o Estripador. Muita
gente acredita que a organização controla governos e que seus integrantes usam
cargos públicos para se ajudar mutuamente. Os maçons, no entanto, garantem que
quase tudo isso é besteira. Eles não passariam de um grupo filosófico,
filantrópico e progressista. Reconhecem que ajudam uns aos outros, mas que o
dever de auxiliar um irmão está sempre sujeito à obrigação maior de cumprir a
lei. Afinal, qual é a verdade sobre essa sociedade secreta?
Para começar, a
maçonaria não é tão secreta assim. Em vários países, todo mundo sabe onde ficam
as lojas maçónicas e quem são seus membros. Maçons publicam revistas e divulgam
suas ideias em sites da internet. E, se antes mantinham seus templos imersos
numa aura de mistério, hoje permitem visitas.
A julgar por
iniciativas desse tipo, parece que a organização nunca foi tão aberta como
hoje. Será que o grande segredo da maçonaria é não ter segredo algum, como
dizem alguns irmãos? Pode ser. Mas o certo é que eles ainda mantêm sessões a
portas fechadas. Angel Jorge Clavero, grão-mestre da Grande Loja da Argentina,
tem uma explicação para isso. “A maçonaria não é secreta, mas discreta. As cerimónias
que realizamos aqui só interessam a nós, são reservadas aos iniciados.” Para
Clavero, é exactamente o que ocorre em qualquer reunião, seja de condomínio ou
da directoria de uma multinacional. “Se você não é dono de um apartamento no
prédio ou director da empresa, não vão deixá-lo entrar.
VÁRIAS MAÇONARIAS
O argumento do
grão-mestre faz sentido. Por outro lado, directores de empresas não costumam se
reunir para debater filosofia, vestidos com aventais coloridos e rodeados de objectos
simbólicos. Além disso, nem você nem seus vizinhos de apartamento precisam
jurar segredo absoluto sobre o que foi discutido na reunião de condomínio. Na
maçonaria, é assim que as coisas funcionam. Para entender os porquês disso
tudo, o primeiro passo é levar em conta que não existe uma só, mas várias
maçonarias.
A organização é uma
rede global, hoje composta de cerca de 6 milhões de integrantes espalhados
pelos 5 continentes. Os rituais variam muito, de um país para outro. Cada loja
tem autonomia, mesmo que pertença a uma federação nacional ou continental.
Algumas usam a Bíblia em suas reuniões. Outras, a Tora ou o Alcorão. Essa
diversidade permite que os símbolos maçónicos tenham várias interpretações. E
foi graças a ela que personalidades extraordinariamente distintas já vestiram o
avental da irmandade: de Mozart a D. Pedro I, de Winston Churchill a Hugo
Chávez.
Mas as maçonarias
também têm muito em comum. Todas elas, independentemente do país, defendem os
ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Veneram o Grande Arquitecto do
Universo – como se referem a Deus. E exigem requisitos dos iniciados, que,
depois de passar por uma cerimónia de iniciação, vão galgando postos e
acumulando mais e mais conhecimentos. Embora proíbam falar de política e
religião dentro do templo, os maçons continuam tendo o poder e a influência de
sempre. A mesma que eles usaram para orquestrar capítulos decisivos da história,
como a independência do Brasil, dos EUA e de quase todos os países da América
Latina.
A origem da maçonaria é
um mistério até para os maçons. Uma das teorias diz que ela surgiu há cerca de
3 mil anos, durante a construção do Templo de Salomão, em Jerusalém. O rei
israelita teria recrutado o arquitecto Hiram Abif, mestre na arte de talhar
pedras, que ensinava os mistérios do ofício apenas a pedreiros escolhidos a
dedo. No fim da obra, 3 artesãos exigiram que ele lhes contasse os segredos.
Abif recusou-se e acabou sendo assassinado por isso.
O martírio do arquitecto
jamais foi comprovado. Mesmo assim, significa muito para os maçons. Em The
Meaning of Masonry (“O Significado da Maçonaria”, inédito no Brasil), o maçom
britânico W.L. Wilmshurst interpreta a morte do mestre como um desastre moral
para a humanidade – como se a chama do conhecimento tivesse sido apagada.
“Agora, neste mundo escuro, ainda temos os 5 sentidos e a razão, que vão nos
proporcionar os segredos substitutos”, escreve Wilmshurst. A maçonaria,
portanto, seria um sistema filosófico que discute o Universo e nosso lugar
dentro dele. Quanto mais o maçom sobe os degraus da confraria, mais perto ele
chega da Luz – ou seja, o pensamento racional.
Outra tese afirma que
os maçons são herdeiros dos templários, os cavaleiros que viajaram à Terra
Santa no século XII para defender os cristãos, mas que acabaram perseguidos
pela Igreja. E existe também quem defenda uma origem ainda mais remota, no Egipto
dos faraós ou na Grécia antiga. Para a maior parte dos historiadores, contudo,
foi na Europa medieval que a maçonaria assentou suas bases. Ela teria começado
na forma de sindicatos de pedreiros (masons, em inglês), que construíam
monumentos para religiosos e monarcas – entre eles a Ponte de Londres e a
Catedral de Westminster, também na capital da Inglaterra.
“Os pedreiros ingleses
almoçavam e deixavam suas ferramentas em pequenas casas chamadas lodges
[lojas]”, explica o jornalista americano H. Paul Jeffers no livro Freemasons
(“Maçons”, sem tradução para o português). Assim como Abif, eles mantinham em
segredo seus métodos de construção, pois eram a garantia de melhores salários.
Esses sindicatos
floresceram até o século 16, quando os pedreiros tiveram uma surpresa. Abalada
pela Reforma Protestante e pela rixa com o rei Henrique VIII, a Igreja parou de
construir catedrais. Resultado: contratos para novas obras minguaram. “A
maçonaria entrou em crise e sofreu uma grande mudança. Tudo que era ligado à
prática do ofício na pedra passou a ser alegórico, e as ferramentas viraram
símbolos na contemplação dos mistérios da vida”, diz Jeffers. A ordem deixou de
ser “operativa” para ser “especulativa”. E as lojas maçónicas passaram a
interpretar esses símbolos por meio de conceitos morais, éticos e filosóficos.
A sociedade foi aberta a outros profissionais, como os cientistas, e deixou-se
influenciar até pela alquimia.
Em 1717, quatro lojas
de Londres se uniram na Grande Loja Unida da Inglaterra, que marcou o início da
maçonaria actual. Em 1723, o maçom James Anderson compilou a tradição oral da
irmandade numa constituição, cujos lemas eram ciência, justiça e trabalho. Quem
não gostou de nada disso foi a Igreja, sentindo seu poder ameaçado por um grupo
que rejeitava dogmas, aceitava seguidores de outras crenças e era contra a
influência da religião na vida pública. Pior: discutia seus assuntos em
segredo, o que só aumentava a desconfiança da Santa Sé. Em 1738, o papa
Clemente XII emitiu uma bula em que excomungava a maçonaria – ratificada em
1983 pelo cardeal Joseph Ratzinger, actual papa Bento XVI.
O tiro saiu pela
culatra. Quanto mais a maçonaria era difamada, mais ela atraía revolucionários
– entre eles, o libertador sul-americano Simon Bolívar e o herói da
independência americana Benjamin Franklin. A Revolução Francesa também assumiu
os valores maçónicos, mas não com a intensidade que muitos imaginam. “Do mesmo
jeito que alguns revolucionários franceses eram maçons, como Jean-Paul Marat,
alguns opositores da revolução também eram”, diz o historiador inglês Jasper
Ridley no livro The Freemasons (“Os Maçons”, inédito no Brasil). No século XX,
a Igreja continuaria no encalço da maçonaria.
CÓDIGOS SECRETOS
A história de
perseguição explica por que os maçons desenvolveram códigos para se reconhecer
no meio de outras pessoas. No aperto de mão, por exemplo, um tocaria com o
indicador no pulso do outro. Ao se abraçar, eles colocariam um braço por cima,
outro por baixo, em X, e bateriam 3 vezes nas costas. Mais uma forma de
comunicação em lugares públicos seria ficar em posição erecta e com os pés em
forma de esquadro.
Em seus textos, os
maçons abreviam as palavras usando 3 pontos em forma de delta. Exemplos: “Ir” é
irmão, “Loj” é loja. Hoje, boa parte desses segredos já virou de domínio
público. Tanto que o termo usado pelos maçons para se referir a Deus –
Jahbulon, resultado da união dos nomes Javé, Baal e Osíris – aparece em quase
30 mil páginas na internet.
Para ingressar na
maçonaria, é necessário ter a ficha bem limpa, ser maior de idade e acreditar num
deus, seja ele qual for. O candidato precisa ser convidado por um maçom e só se
torna aprendiz após ser aceito numa cerimónia de iniciação no templo, onde se
compromete a não revelar o que escutar ali dentro.
“Nossa meta é formar
homens melhores, ensiná-los a se libertar dos dogmas e a pensar por si mesmos”,
diz o grão-mestre argentino Jorge Clavero. “A maçonaria não é como um partido
político, que fixa posições. Ela actua na sociedade por meio de seus homens,
silenciosamente. O iniciado faz sua obra entre a família, os amigos e em seu
local de trabalho.”
Por dentro do templo maçónico
Um passeio pela Grande
Loja da Argentina de Maçons Livres e Aceitos, com explicação para tudo que você
veria lá dentro
• ALTAR
Corresponde ao Santo
dos Santos, o lugar mais sagrado do antigo Templo de Jerusalém. A poltrona
central é usada apenas pelo venerável-mestre, que conduz os rituais.
• COMPASSO E ESQUADRO
Remetem ao tempo em que
os maçons eram pedreiros. Por desenhar círculos perfeitos, o compasso
representa a busca da perfeição. Já o ângulo recto do esquadro sugere
honestidade. A letra “G” vem de God – “Deus” em inglês.
• SOL E CÉU AZUL
São vários os
significados atribuídos ao Sol na maçonaria. Rente ao teto do templo, ele pode
ser interpretado como conhecimento e esclarecimento mental ou intelectual. O
céu azul simboliza a natureza e o Universo.
• CIÊNCIA, JUSTIÇA E
TRABALHO
Os 3 adultos à
esquerda, neste quadro do italiano Enrique Fabris, representam a ciência
(ancião com a tocha da razão), a justiça (mãe carregando o filho) e o trabalho
(homem vigoroso com ferramentas). A esfinge central refere-se à sociedade
iniciática e o longo caminho a ser seguido pelo homem na busca do conhecimento.
O Sol simboliza a natureza, presente em seus 4 elementos: água, fogo, ar e
terra. Deles, apenas a água não pode ser dominada pelo homem – daí o mar
revolto no quadro.
• AVENTAL
Símbolo de trabalho,
ele protege o maçom e indica seu grau (na foto, Angel Jorge Clavero,
grão-mestre da Loja Argentina de Maçons Livres e Aceitos). As luvas, sempre
brancas, significam pureza, rectidão moral e igualdade.
• ESTRELA DO ORIENTE
Com 5 pontas, ela
simboliza o homem em seus 5 aspectos – físico, mental, emocional, intuitivo e
espiritual. Ao fundo, observa-se a pirâmide com o olho que tudo vê, uma alusão
a Deus.
• PISO XADREZ
Representa povos do
mundo unidos pela maçonaria. Os triângulos e quadrados simbolizam a harmonia
que pode existir na diversidade. Também sintetizam os contrários: Bem e Mal,
corpo e espírito.