Em breve Mark Post vai apresentar os primeiros
resultados do projecto que desenvolve carne em laboratório
A carne artificial pode ser uma opção viável para
reduzir 278 milhões de toneladas de carne animal, produzidas por ano. Apesar
das possíveis diferenças nos valores nutricionais, os especialistas não
condenam a alternativa.
Em 2012, cada europeu consumiu cerca de 76 quilos de
carne. No resto do mundo, a média foi de 42 quilos. Estas estatísticas estão a
gerar preocupações ambientais, já que por cada mil gramas de carne de vaca
produzida para consumo humano, são libertados cerca de 13 quilos de gases com
efeitos de estufa — muito mais nocivos que o dióxido de carbono.
A Organização para a Comida e Agricultura das Nações
Unidas sublinha que este valor é equivalente aos gases que, em média, são
emitidos a cada 160 quilómetros percorridos por um automóvel.
O problema dos valores nutricionais
Anna Olsson, investigadora do Instituto de Biologia
Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto,
diz mesmo que, actualmente, o "nível de consumo de carne não é
sustentável". Assim, a produção de carne em laboratório pode ser a solução
para um ambiente mais equilibrado.
Tal como a convencional, a carne artificial "pode
ser enriquecida com nutrientes e há maiores possibilidades de controlar a sua
composição do que quando a carne deriva de um animal". Segundo a
investigadora, os valores nutricionais "não precisam de ser diferentes,
mas se houver diferenças em termos de valores nutricionais, parece provável que
sejam em favor da carne artificial".
Já Célia Lopes, dietista, refere que ainda é cedo para
ter acesso a relatórios acerca da "composição nutricional da carne
artificial". Deste modo, ao não existir "provas dadas ao nível da
comunidade científica, não é possível afirmar que a carne artificial apresenta
os mesmos valores nutricionais que a de animal".
No entanto, Anna refere que comer "carne em si
não é problemático", uma vez que o problema está mesmo nas grandes
quantidades consumidas "no mundo ocidental". Célia Lopes partilha da
mesma opinião pois "como qualquer alimento", o problema é quando é
consumido em excesso". Deve-se variar o tipo de carne consumida,
"limitando o consumo de carnes vermelhas e ter em atenção a certificação
dos produtores e distribuidores.
Apesar de defender que a carne artificial pode ser
mais facilmente controlada para "conter características benéficas para a
saúde", Cristina Rodrigues, do Centro Vegetariano, diz que, ao tratar-se
de um alimento produzido em laboratório, "não se sabe se terá
consequências para a saúde ou não". Mesmo assim, "a substituição da
carne animal por carne artificial certamente diminuirá problemas de colesterol
e outros associados ao consumo excessivo de proteínas animais", sublinha.
Projecto da Universidade de Maastricht
Na Holanda já há previsões para o primeiro hambúrguer
de origem não-animal. Nos próximos meses, a equipa de cientistas e
investigadores da Universidade de
Maastricht — liderada por Mark Post — vai apresentar os primeiros
resultados do projecto que desenvolve carne em laboratório.
O processo é complicado mas garante a salvaguarda e
respeito pelos animais. As células estaminais são extraídas de tecido muscular
animal, através de uma autópsia, para depois serem cultivadas in vitro. Ao
longo do processo, acrescentam-se vitaminas, açúcar e gordura de forma a
estimular a origem de três mil pedaços de tecido: o suficiente para produzir um
hambúrguer.
A carne de laboratório vai ter um preço elevado,
tratando-se de um produto para um pequeno "nicho". Assim,
inicialmente, não vai ser um produto para o grande público. Cristina Rodrigues
lembra, no entanto, que é necessário que o produto seja "saboroso" e
que tenha "um preço mais acessível do que a carne" convencional, para
granjear mais apoiantes. E mesmo assim há muitas pessoas que nunca vão ter
"interesse em experimentar um produto de laboratório", diz. Pode até
levar "muitos anos até se mudar mentalidades e hábitos".
Fonte: Público
Sem comentários:
Enviar um comentário