terça-feira, maio 21, 2013

Ray Manzarek e as portas da eternidade

 
O teclista dos Doors, Ray Manzarek, um dos membros fundadores do mítico grupo de rock liderado por Jim Morrison, morreu esta segunda-feira, na Alemanha, vítima de cancro, segundo comunicado na página no Facebook da banda.
Manzarek tinha 74 anos. Conhecera Jim Morrison em Venice Beach, na Califórnia, e acabou por formar com este o grupo que ficou famoso por temas como "Riders on the Storm", de 1971.
O som do seu órgão era um dos mais reconhecíveis da música rock.

A imagem do seu tronco curvado sobre as teclas, uma das mãos desenhando linhas de baixo, a outra divagando pelo órgão, ficarão para sempre associadas a uma banda, os Doors, e a um tempo, os anos 1960. Ray Manzarek foi um dos instrumentistas que melhor os representou e foi, até ao fim da vida, nesta segunda-feira, totalmente um filho das ambições estéticas e dos sonhos de reinvenção e despertar espiritual desse tempo.
Um romantismo perfeitamente ilustrado no início de tudo. Manzarek encontrou Jim Morrison, colega da mesma faculdade de Los Angeles, na praia de Venice. Morrison mostrou-lhes algumas letras que escrevera. "Moonlight drive": "Let's swim to the moon / Let's climb to the tide". Os Doors nasciam ali, naquela tarde.

Nascido em Chicago, amante do blues e do jazz, fundaria os Doors com Jim Morrison em 1965. Dois anos depois, com a edição do homónimo álbum de estreia, a banda tornar-se-ia um dos fenómenos da década, atingindo o coração do circuito pop com as letras provocadoras e enigmáticas de Morrison e música que reproduzia na perfeição aquilo que Manzarek definia como uma entrega "dionisíaca" à vida, constantemente no fio da navalha.
Se Morrison era todo ele excesso e descontrolo, Manzarek era o músico metódico que, apoiado pelo guitarrista Robbie Krieger e pelo baterista John Densmore, traduzia em som essa tentação pelo abismo, aproximando a música do precipício, mas impedindo-a de entrar em queda livre.
Até 1971, data da morte de Jim Morrison e da edição de LA Woman, o último álbum do vocalista com os Doors, Ray Manzarek firmou com a banda o seu legado na história da música popular urbana. Álbuns como Strange Days ou Morrison Hotel e canções como Light my fire, The end, When the music's over ou Riders on the storm têm a marca do seu talento que, segundo o próprio, residia mais na liberdade da imaginação que na força do virtuosismo. "Sou basicamente uma espécie de pianista de 'cocktail jazz'. Serei o primeiro a admitir que não sou um teclista muito bom", terá afirmado um dia.
 
Nascido verdadeiramente para a música com os Doors, nunca se libertaria verdadeiramente da sombra da banda (nem, na verdade, parecia desejá-lo). A carreira a solo foi discreta e os Doors, quer nos livros de memórias, quer nas digressões revivalistas, um porto seguro a que regressou sempre. Isso não o impediu, no entanto, de lançar alguns álbuns a solo, com o grupo Nite City, ou de concretizar algumas colaborações com Iggy Pop, Echo & The Bunnymen, X ou Philip Glass.
Robbie Krieger, que o acompanhou nos últimos anos, declarou em comunicado: "Sinto-me feliz por ter podido tocar as canções dos Doors com ele durante a última década. Ray foi uma grande parte da minha vida e irei sentir a sua falta para sempre".
Com Robby Krieger e o cantor Ian Astbury (The Cult), viria a reformar os Doors em 2002, passando por Portugal três vezes: em dois concertos no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, no Coliseu dos Recreios e no festival Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia.
"Fiquei profundamente triste ao saber da morte do meu amigo e companheiro de banda, hoje. Fico feliz por ter podido tocar canções dos Doors com ele, durante a última década. O Ray foi uma grande parte da minha vida e hei de ter sempre saudades dele", escreveu Robby Krieger.

Recentemente, John Densmore, que se opôs à reunião dos Doors, escreveu um livro sobre a batalha judicial que daí decorreu, admitindo que não se importaria de voltar a tocar com Krieger e Manzarek, desde que o fizesse por solidariedade e não para ganhar dinheiro.

Manzarek deixa a mulher, os dois irmãos, o filho Pablo e três netos.


This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end
Of our elaborate plans, the end
Of everything that stands, the end
No safety or surprise, the end
I'll never look into your eyes...again
Can you picture what will be
So limitless and free
Desperately in need...of some...stranger's hand
In a...desperate land
Lost in a Roman...wilderness of pain
And all the children are insane
All the children are insane
Waiting for the summer rain, yeah


Mais sobre The Doors:


Bibliografia consultada:
Blitz, DN, Expresso, Público.

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