sexta-feira, abril 15, 2011

Revolução já!

"Se soubesse como o país ficava não tinha feito a revolução"

Otelo Saraiva de Carvalho está arrependido de ter feito a revolução agora que sabe o estado a que o país chegou e avisa de que a retirada de direitos aos militares pode conduzir a nova revolução. A entrevista surge em vésperas das comemorações da data libertadora e a propósito do lançamento do seu livro "O dia inicial".

O estratega do 25 de Abril que comandou do quartel da Pontinha as acções militares que conduziram ao derrube do regime corporativista de Salazar/Caetano, ouve todos os dias alguém lamentar-se do estado do país e comentar a necessidade de uma nova revolução em Portugal.

Tem 75 anos mas mantém a lucidez e a utopia de acreditar num mundo melhor. Recorda nomes, propósitos, funções de cada um dos muitos executantes das acções político-militares do dia 25 de Abril de 1974.

Indelevelmente associado ao movimento revolucionário que ficou conhecido como “movimento dos cravos”, Otelo não esconde no entanto, algum desânimo apesar de se assumir como “um optimista por natureza”.

"Sou um optimista por natureza, mas é muito difícil encarar o futuro com optimismo. O nosso país não tem recursos naturais e a única riqueza que tem é o seu povo", disse.

As “enormes diferenças de carácter social” são injustiças que Otelo recusa. "Não posso aceitar essas diferenças. A mim, chocam-me. Então e os outros? Os que se levantam às 05h00 para ir trabalhar na fábrica e na lavoura e chegam ao fim do mês com uma miséria de ordenado?", questiona o antigo candidato à Presidência da República.

“Questões que considerava muito importantes no programa político do Movimento das Forças Armadas (MFA) não terem sido cumpridas", levam-no à descrença e à desilusão.

Uma, que considera "crucial", era a criação de um sistema que elevasse rapidamente o nível social, económico e cultural de todo um povo que viveu 48 anos debaixo de uma ditadura".

"Este povo, que viveu 48 anos sob uma ditadura militar e fascista merecia mais do que dois milhões de portugueses a viverem em estado de pobreza", adiantou. Este número significa que "não foram alcançados os objectivos" do 25 de Abril.

Estas e muitas outras razões levam Otelo Saraiva de Carvalho a garantir que se fosse hoje não teria feito a revolução, sobretudo sabendo como sabe hoje o estado em que o país se encontra.

"Pedia a demissão de oficial do exército, nunca mais punha os pés no quartel, pois não queria assumir esta responsabilidade", frisou, justificando essa afirmação dizendo que "o 25 de Abril é feito em termos de pensamento político, com a vontade firme de mudar a situação e desenvolver rapidamente o nível económico, social e cultural do povo. Isso não foi feito, ou feito muito lentamente".

"Fizeram-se coisas importantes no campo da educação e da saúde” reconhece o antigo capitão de Abril, chamando no entanto, a atenção para o facto de “muito delas têm vindo a ser cortadas agora outra vez".

"Não teria feito o 25 de Abril se pensasse que íamos cair na situação em que estamos actualmente. Teria pedido a demissão de oficial do Exército e, se calhar, como muitos jovens têm feito actualmente, tinha ido para o estrangeiro", concluiu.

Perda de direitos dos militares pode conduzir a uma nova revolução!

Otelo Saraiva de Carvalho diz que bastam 800 militares para derrubar um governo, mas não tem dúvidas em afirmar que "um novo 25 de Abril" só deverá acontecer com a perda de direitos dos militares.

Em entrevista à Agência Lusa, a propósito do lançamento do seu livro "O dia inicial", que conta o 25 de Abril "hora a hora", Otelo reconhece que, ao contrário da sociedade em geral, os militares não têm demonstrado grande indignação pelo estado do país.

O antigo líder da FUP justifica o facto afirmando que "os militares pertencem à classe burguesa, estão bem, estão bem instalados, têm o seu vencimento, vão para fora e ganham ajudas de custo, são voluntários e os que estão reformados ainda não viram a sua reforma diminuída".

A situação pode sofrer uma inflexão e Otelo considera que "a coisa começará a apertar, no dia em que os militares perderem os seus direitos".

"Se isso acontecer", sublinhou, "é possível que se criem as tais condições necessárias para que haja um novo 25 de Abril".

O movimento dos capitães iniciou-se precisamente por "razões corporativistas", nomeadamente quando "os militares de carreira viram-se de repente ultrapassados nas suas promoções por antigos milicianos que, através de um decreto-lei de um governo desesperado por não ter mais capitães para mandar para a guerra colonial, permite a entrada desses antigos milicianos", recorda Otelo.

"Esses capitães são rapidamente promovidos a majores e ultrapassam os capitães que estavam a dar no duro e tinham quatro anos de curso", adiantou.

"Quando tocam nos interesses da oficialidade, ela começa a reagir. Há 37 anos, essa reacção foi o movimento de capitães", lembra Otelo.

Fonte: RTP

Comentário meu: Houve quem não gostasse desta entrevista, mas as coisas poderão estar por um fio...

1 comentário:

Um novo Despertar disse...

Visto que assino o sobrenome Carvalho, e pelo que lí o espirito das coisas andam a um fio em Portugal.
Este estrangulamento não só vemos na UE e em especial Portugal.
Tenho observados anos á fio aqui no Brasil, um cinchavo econômico em nome de uma falsa estabilidade e agora parece que dá nomes as trincas.
A inflação e juros altos são uma delas e o ministro já começa a arrancar o que ainda tem cabelos para tentar explicar como vão fazer para controlar inflação e deter o grande fluxo de dolares por aqui.
EU temo pelo que tudo isto vai dar.
Coisa boa que não é, pagaremos um alto preço por esta farra.
Daniel

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