A
Companhia de Teatro de Almada apresenta Negócio Fechado
O
dia-a-dia de uma agência imobiliária em crise, onde as regras de ética não
existem e o que importa é vender.
Em
Negócio fechado (no original, Glengarry Glen Ross), Prémio
Pulitzer 1984, David Mamet desmistifica o chamado sonho americano.
Centrando-se no ambiente de uma agência imobiliária, Negócio fechado sintetiza
alguns dos temas habitualmente tratados por Mamet (o excesso de
competitividade, a ausência de escrúpulos, e a impiedade para com os mais
fracos), imputáveis a alguns sectores da sociedade norte-americana.
Imagine-se
o caos sem aqueles benditos 15 minutos para relembrar o êxito passado, lamentar
o presente e, se for o caso, lamber as botas ao patrão para dar um jeitinho. As
vacas gordas estão esqueléticas e no meio imobiliário da década de 80 qualquer
contacto é uma bênção. Rodrigo Francisco foi à América buscar o sonho e
arrastou-o para a actualidade portuguesa.
O
escritório da Agência Imobiliária Mendes & Mendonça serve de palco a um
antro de competitividade desenfreada entre um vendedor em final de carreira,
Sílvio Rosa (Marques d’Arede), um jovem confiante e em pico de forma, Lourenço
Marques (Pedro Lima), e ainda ao seu gerente contestado, João Fernandes (Ivo
Alexandre). A estes juntam-se Jorge Orlando (Miguel Sopas), um homem sem
pedalada para tanta artimanha, David Mata (Pedro Walter), um conflituoso
vendedor com mão para ilegalidades, e Jaime Ulisses (Alberto Quaresma), um
cliente que é vítima da lábia de Lourenço Marques. Todos se conjugam e
atropelam através de uma competição de vendas promovida pelos chefes em que há
pouco espaço para erros. Ainda assim, há prémios de várias espécies. Para o
primeiro lugar um Mercedes, para o segundo um jogo de facas de cozinha, para os
restantes… o desemprego.
“O
que está evidente neste espectáculo é a bolha imobiliária americana que levou à
falência do banco Lehman Brothers e que os Estados Unidos se encarregaram de
exportar para a Europa. Quem não se recorda de receber cartas dos bancos em
casa e bastava ir levantá-los? Quantos milhares é que estas pessoas lucraram
com isto, com os juros pagos sobre esses cheques? Enfim, foi com base nisso que
pensei na peça”, explica Rodrigo Francisco. Que depressa nos adianta que não
foi fácil criá-la: “Já tinha lido este texto do David Mamet há seis anos e já
tinha falado com o Joaquim Benite sobre a hipótese de avançarmos com este
projecto. A questão é que exige um grande elenco, que não surge de um dia para
o outro, e além disso foi preciso um grande trabalho na adaptação, transportar
esta realidade para a nossa, portuguesa, abolir as referências americanas para
apelar ao público, para pôr em prática um teatro realista”, confessa.
A
atmosfera que se cria em torno deste escritório tem como base a experiência
vivida por Mamet quando em 1969 trabalhou numa agência com os mesmos conflitos
que quis demonstrar. Os dossiês empilhados, os slogans de suposta motivação
para os trabalhadores - “A venda só começa quando o cliente diz não” - o quadro
escrito a giz com os resultados de cada um, são todos elementos que enfatizam
um cenário propício a tão pouca ataraxia.
David
Mamet (Illinois,
1947) monta as suas primeiras peças no teatro de Saint Nicholas, em Chicago. A
partir de 1975 começa a ser produzido no circuito off da Broadway: Perversidade
sexual em Chicago (1974), Búfalo americano (1977), Uma vida de
teatro (1977). Mestre do diálogo, o seu estilo é habitualmente equiparado
ao de Edward Albee. As suas peças, breves mas densas, assentam nas vidas das
suas personagens, cuja solidão encontra eco na sociedade moderna. A linguagem
de Mamet, considerado um virtuoso construtor de enredos, distingue-se pelo ritmo
quase musical, obtido através de pausas, de frases interrompidas, e de um
inconfundível jargão realista – simultaneamente violento e poético.
Intérpretes Alberto Quaresma, Ivo Alexandre, Marques
D’Arede, Miguel Sopas, Paulo Guerreiro Pedro Lima e Pedro Walter
adaptação Rodrigo Francisco
Cenário e figurinos Ana Paula Rocha
Desenho de Luz Guilherme Frazão
Caracterização Sano de Perpessac
Assistente de Encenação Paulo Mendes
SALA
EXPERIMENTAL
de 28 de MARÇO a 28 de ABRIL
de QUA a SÀB às 21H30, DOM às 16H00
Duração:
1H30
M/12
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