sábado, julho 17, 2010

O Colapso

Em Coimbra, ao regressar de férias ao fim da tarde, do passado dia 15 de Julho de 2010, fui confrontado com um engarrafamento brutal, todas as artérias da baixa da cidade estavam entupidas com latas de quatro rodas, pura e simplesmente, não se andava nem para a frente, nem para trás, encontrando-se os pontos nevrálgicos sobre o controlo da Policia.

Interroguei-me o que é isto?

O que se passa?

Uma Revolução?

Uma qualquer queima das fitas (fora de época)?

A morena de Mirandela e o Cristiano Ronaldo a passear em Coimbra?

Ou a procissão da Rainha Santa?

Nada disso…

Obtive a resposta no Diário de Coimbra, no dia seguinte quando vi a notícia, que abaixo dou por reproduzida:

“Coimbra foi ontem de madrugada surpreendida pela proibição de acesso do trânsito da Casa do Sal à Ponte-Açude, uma medida tomada de emergência devido a problemas num pilar

A rampa de acesso da Casa do Sal ao tabuleiro da Ponte-Açude, em Coimbra, foi ontem de madrugada encerrada ao trânsito depois de terem sido detectados problemas estruturais (cimento a soltar-se do ferro) num dos seus pilares localizado junto à linha de caminho-de-ferro.


A interdição vai prolongar-se durante cerca de mês e meio, estando previsto o fim dos trabalhos de reparação do pilar para início de Setembro.
A PSP de Coimbra, que durante o dia não notou grandes complicações na circulação automóvel na cidade, já teve “trabalhos dobrados” ao final da tarde, altura em que a situação se agravou.


A Estradas de Portugal referiu que «decidiu proceder ao encerramento temporário ao tráfego rodoviário do viaduto do acesso Norte/Sul à Ponte-Açude, ontem à 1h30». «Esta medida resulta das inspecções principais e de rotina efectuadas a esta infra-estrutura», sublinhou a empresa.
A Estradas de Portugal frisa que durante o dia de ontem seria complementada a sinalização de alternativas que passarão por duas possibilidades. Uma, saída para Norte pelo IC2, inversão de marcha no nó da Pedrulha e retoma do IC2 no sentido Sul. A outra, saída pela Avenida Fernão de Magalhães e Ponte Santa Clara, em direcção a Sul.
A razão da decisão de encerramento fundamenta-se, segundo aquela empresa, na sequência de alertas e observações efectuadas e na constatação da inesperada evolução de patologias do pilar PB4 do viaduto de acesso Norte/Sul à Ponte-Açude. «Ainda no decorrer da noite do dia 14 de Julho foram accionados os meios para proceder a uma intervenção de reabilitação de emergência», adiantou a Estradas de Portugal, que prevê que o condicionamento do trânsito não ultrapasse os 45 dias.”

Fonte: Diário de Coimbra, dia 16.07.2010

Comentário meu:

Esta obra foi concluída no tempo, em que Aníbal Cavaco Silva era Primeiro-ministro, naquela altura foi concluída em tempo record. Naquele tempo, imperava a lógica do betão e os empreiteiros de construção civil embolsavam dinheiro a rodos, poupando no material, que era desviado para outros lados.

Sim senhor, decorridos 20-30 anos, a mesma ponte apresenta sinais de vir abaixo, tal a qualidade do material utilizado na obra. Quanto dinheiro terá recebido a mais a empresa que procedeu à construção da Ponte Açude? Eis uma pergunta pertinente...

Agora de quem é a responsabilidade?

Quem paga?

Todos nós…

Cada vez mais se multiplicam os sinais, um pouco por todo o lado, a nível global, nacional, regional e local, que nada parece funcionar.

Moralidade e consciência não há nenhuma.

Pouca vergonha não há. É tudo à descarada.

A sensação que tenho é que as obras quando são abjudicadas os orçamentos são feitos por baixo para ganhar concursos, depois é que são elas e Coimbra é fértil nestes casos paradigmáticos:

O que dizer das obras da Ponte Europa?

Que mudou de nome e foi concluída à pressa devido ao Europeu de Futebol de 2004?

Do Hospital Pediátrico?

Que está por acabar, quando parecia concluído. Os engenheiros descobriram que faltava o reforço sísmico elevando os custos para o dobro…

Ou ainda do Metro Mondego?

Depois das expropriações feitas, de casas por terra, de estabelecimentos comerciais com tradição na cidade dos estudantes encerrados, dos carris retirados no Ramal da Lousã, da linha encerrada, com prejuízo para a mobilidade de todos os moradores dos concelhos de Coimbra, Miranda do Corvo e da Lousã.

Quem nos vale?

Exige-se a intervenção do Ministério Público e a responsabilização criminal e cível dos prevaricadores independentemente do cargo ou título académico que ostentam.

Portugal está necessitado duma varridela de cima abaixo.



3 comentários:

Carmo L. disse...

Este é o nosso PORTUGAL!
Ao observar a foto colocada aqui, dá para perceber a qualidade da formação académica...de braços cruzados e de cabeças no ar...o dificil vai ser onde arranjar o carcanhol ( lembre que é mais uma obra ) e a sabedoria necessaria para consertar os erros, pois isto aqui não dá para remendar como estão habituados a fazer nas nossas estradas

Max disse...

Em Chaves a ponte de Trajano, construída no séc. I d.C., ainda lá está: após 20 séculos continua a desenvolver o próprio papel.

O que mudou? O material de construção? Não: mudou a sociedade, hoje tão evoluída que uma ponte não aguenta 20 anos.

Pontes, hospitais...nada é construído pelo Estado: existem as empresas para isso e o resultado está à vista.

Não porque as empresas sejam más: mas porque não há controle, quem ganha os concursos são os amigos dos amigos, no orçamento tem que ser prevista "a prenda" para o assessor, o engenheiro, o gabinete municipal, o chefe da obra..

A qualidade dos materiais é a última das preocupações.
Aliás, não preocupa mesmo, pois se o material não for bom ainda melhor: alguém (outro amigo do amigo) será chamado para um ajuste qualquer, o assessor ganhará mais uns trocos, assim como o engenheiro, o gabinete municipal, o chefe da obra...

Chama-se "corrupção".
Existia na época dos Romanos?
Sim, claro. Mas, pelo menos, não implicava a construção de obras públicas em papel prensado...

Carmo L. disse...

MAX, adorei cada palavra.
Construções romanas é outra loiça!!!

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