quinta-feira, setembro 20, 2012

A Bela e o Monstro


Esta imagem está a correr o mundo. No meio da confusão da passagem dos manifestantes junto à delegação do FMI em Lisboa, uma jovem abraçou um agente da PSP que era atingido com garrafas e tomates e desafiou-o a juntar-se aos protestos.
A fotografia foi tirada por José Manuel Ribeiro, ao serviço da agência Reuters, e já circula por jornais e sites de todo o mundo como um símbolo de paz e dos conhecidos 'brandos costumes' portugueses. E agora sabemos a história por trás da imagem.
A ruiva que abraçou o agente da PSP é Adriana Xavier, uma estudante do ensino secundário. A algarvia de 18 anos participava numa manifestação pela primeira vez na vida, e ficou incomodada ao ver o agente de «olhar triste» a ser atingido por bombas de fumo e outros objectos.
«Aproximei-me porque tinha curiosidade. Estava só ali, a observar a reacção dos polícias porque sei que por detrás deles há muito poder e que eles são marionetas. Estão ali porque recebem dinheiro para alimentar os filhos. Às vezes vemos os polícias partir para a violência e aproximei-me porque queria perceber o que é que eles eram capazes de fazer. Porque eles também são o povo, também estão a ser prejudicados com as medidas [do Governo]», contou.
Adriana olhou para um dos polícias em particular. «Já tinha olhado para ele, quando ele ainda não tinha a viseira. Tinha um olhar triste. Mas tinha um olhar aberto também. Sou muito sensível nestas coisas», conta a estudante. «Fui ter com ele e perguntei-lhe: ‘Por que é que vocês estão aqui? Para provocar alguma reacção má?’ Ele disse: ‘É o meu trabalho.’ Depois perguntei: ‘Não gostava de estar deste lado?’ E ele não respondeu. Olhou em frente».
E Adriana avançou então para um abraço: «Pensei uma, duas, três vezes. E aproximei-me dele. Acredito que se der amor, dou amor. E foi por isso. Queria ter um gesto de amor. Queria ter uma reacção boa naquele momento, não quero ter sentimentos maus. Aproximei-me dele, abracei-o. Ele ficou estático. Depois afastou-se suavemente. Não me afastou, afastou-se».
A jovem algarvia, que não acredita em partidos políticos e considera que o dinheiro «só gera maus sentimentos, só gera ódios», lembra que não é «a primeira pessoa do mundo a abraçar um polícia» mas espera que aquele e outros gestos provoquem uma «mudança espiritual» nos portugueses.


1 comentário:

Miguel disse...

Lindo!

Finalmente alguém que sabe o que diz, que tem uma atitude coerente, que demonstra uma sensibilidade exemplar e um discernimento impressionante no meio de todo este "espetáculo" e da hipocrisia (sem generalizações, aviso já) por detrás de manifestações como esta. É preciso uma jovem de 18 anos fazer (ou não, infelizmente) os mais velhos verem o que realmente é importante, o que faz falta, os valores que nos fazem falta. Fazer ver que a mudança, antes de tudo, começa primeiro em nós.

Paz para todos.

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