Esta
imagem está a correr o mundo. No meio da confusão da passagem dos
manifestantes junto à delegação do FMI em Lisboa, uma jovem
abraçou um agente da PSP que era atingido com garrafas e tomates e
desafiou-o a juntar-se aos protestos.
A fotografia foi tirada por José
Manuel Ribeiro, ao serviço da agência Reuters, e já circula por
jornais e sites de todo o mundo como um símbolo de paz e dos
conhecidos 'brandos costumes' portugueses. E agora sabemos a história
por trás da imagem.
A ruiva que abraçou o agente da
PSP é Adriana Xavier, uma estudante do ensino secundário. A
algarvia de 18 anos participava numa manifestação pela primeira vez
na vida, e ficou incomodada ao ver o agente de «olhar triste» a ser
atingido por bombas de fumo e outros objectos.
«Aproximei-me porque tinha
curiosidade. Estava só ali, a observar a reacção dos polícias
porque sei que por detrás deles há muito poder e que eles são
marionetas. Estão ali porque recebem dinheiro para alimentar os
filhos. Às vezes vemos os polícias partir para a violência e
aproximei-me porque queria perceber o que é que eles eram capazes de
fazer. Porque eles também são o povo, também estão a ser
prejudicados com as medidas [do Governo]», contou.
Adriana olhou para um dos
polícias em particular. «Já tinha olhado para ele, quando ele
ainda não tinha a viseira. Tinha um olhar triste. Mas tinha um olhar
aberto também. Sou muito sensível nestas coisas», conta a
estudante. «Fui ter com ele e perguntei-lhe: ‘Por que é que vocês
estão aqui? Para provocar alguma reacção má?’ Ele disse: ‘É
o meu trabalho.’ Depois perguntei: ‘Não gostava de estar deste
lado?’ E ele não respondeu. Olhou em frente».
E Adriana avançou então para
um abraço: «Pensei uma, duas, três vezes. E aproximei-me dele.
Acredito que se der amor, dou amor. E foi por isso. Queria ter um
gesto de amor. Queria ter uma reacção boa naquele momento, não
quero ter sentimentos maus. Aproximei-me dele, abracei-o. Ele ficou
estático. Depois afastou-se suavemente. Não me afastou,
afastou-se».
A jovem algarvia, que não
acredita em partidos políticos e considera que o dinheiro «só gera
maus sentimentos, só gera ódios», lembra que não é «a primeira
pessoa do mundo a abraçar um polícia» mas espera que aquele e
outros gestos provoquem uma «mudança espiritual» nos portugueses.
1 comentário:
Lindo!
Finalmente alguém que sabe o que diz, que tem uma atitude coerente, que demonstra uma sensibilidade exemplar e um discernimento impressionante no meio de todo este "espetáculo" e da hipocrisia (sem generalizações, aviso já) por detrás de manifestações como esta. É preciso uma jovem de 18 anos fazer (ou não, infelizmente) os mais velhos verem o que realmente é importante, o que faz falta, os valores que nos fazem falta. Fazer ver que a mudança, antes de tudo, começa primeiro em nós.
Paz para todos.
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