Até 1917, o Império Russo foi uma monarquia absolutista. A monarquia era sustentada principalmente pela nobreza rural, dona da maioria das terras cultiváveis. Das famílias dessa nobreza saíam os oficiais do exército e os principais dirigentes da Igreja Ortodoxa Russa.
Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, a Rússia tinha a maior população da Europa, com cerca de 350 milhões de habitantes. Defrontava-se também com o maior problema social do continente: a extrema pobreza da população em geral.
Enquanto isso, as ideologias liberais e socialistas penetravam no país, desenvolvendo uma consciência de revolta contra os nobres. Entre 1860 e 1914, o número anual de estudantes universitários cresceu de 5000 para 69000 e o número de jornais diários cresceu de 13 para 856.
A população do Império Russo era formada por povos de diversas etnias, línguas e tradições culturais. Cerca de 80% desta população era rural e 90% não sabia ler e escrever, sendo duramente explorada pelos senhores feudais. Com a industrialização foi-se estabelecendo progressivamente uma classe operária, igualmente explorada, mas com maior capacidade reivindicativa e aspirações de ascensão social. A situação de extrema pobreza e exploração em que vivia a população tornou-se assim um campo fértil para o florescimento de ideias socialistas.
Mesmo abatida pelos reflexos da derrota militar frente ao Japão, a Rússia envolveu-se noutro grande conflito, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em que também sofreu pesadas derrotas nos combates contra os Alemães. A longa duração da guerra provocou crise de abastecimento alimentar nas cidades, desencadeando uma série de greves e revoltas populares. Incapaz de conter a onda de insatisfações, o regime czarista mostrava-se intensamente debilitado.
Numa das greves em Petrogrado (actualmente São Petersburgo, então capital do país), Nicolau II toma a última das suas muitas decisões desastrosas: ordena aos militares que disparem sobre a multidão e contenham a revolta. Partes do exército, sobretudo os soldados, apoiam a revolta. A violência e a confusão nas ruas tornam-se incontroláveis.
Em 15 de Março de 1917, o conjunto de forças políticas de oposição (liberais burguesas e socialistas) conseguiu depor o czar Nicolau II, dando início à Revolução Russa.
Revolução de Fevereiro ou Revolução Branca
A primeira fase, conhecida como Revolução de Fevereiro, ocorreu de Março a Novembro de 1917. Sucedendo-se as reuniões, as greves, as passeatas, os tumultos, e os motins, tendo as tropas encarregues de disparar contra a multidão por diversas vezes, se recusado a fazer, passando para o lado dos revoltosos.
Em 2 de Março de 1917 o Czar Nicolau II assina a sua abdicação
Derrubado o czar, tomo posse um governo provisório liderado por Georgy Lvov e Kerenski.
Com a ajuda alemã, Lenine regressa à Rússia em Abril, pregando a formação de uma república dos sovietes, bem como a nacionalização dos bancos e da propriedade privada. O seu principal lema era: Todo o poder aos sovietes.
Entretanto, o processo de desintegração do Estado russo continuava. A comida era escassa, a inflação bateu a casa dos 1.000 %, as tropas desertavam da frente matando seus oficiais, propriedades da nobreza latifundiária eram saqueadas e queimadas. Nas cidades, conselhos operários foram criados na maioria das empresas e fábricas. A Rússia ainda continuava na guerra.
Revolução de Outubro ou Revolução Vermelha
A segunda fase, conhecida como revolução de Outubro, teve início em Novembro de 1917.
Na madrugada do dia 25 de Outubro os bolcheviques, liderados por Lenine e com a ajuda de elementos anarquistas e Socialistas Revolucionários, cercaram a capital, onde estavam sedeados o Governo Provisório e o Soviete de Petrogrado. Muitos foram presos, mas Kerenski conseguiu fugir. À tarde, numa sessão extraordinária, o Soviete de Petrogrado delegou o poder governamental ao Conselho dos Comissários do Povo, dominado pelos bolcheviques. O Comité Executivo do mesmo Soviete de Petrogrado rejeitou a decisão dessa assembleia e convocou os sovietes e o exército a defender a Revolução contra o golpe bolchevique. Entretanto, os bolcheviques predominaram na maior parte das províncias de etnia russa. O mesmo não se deu em outras regiões, tais como a Finlândia, a Polónia e a Ucrânia.
Em 3 de Novembro, um esboço do Decreto sobre o Controle Operário foi publicado. Esse documento instituía a autogestão em todas as empresas com 5 ou mais empregados. Isto acelerou a tomada do controle de todas as esferas da economia por parte dos conselhos operários, e provocou um caos generalizado, ao mesmo tempo que acelerou ainda mais a fuga dos proprietários para o exterior.
Era consenso entre todos os partidos políticos russos de que seria necessária a criação de uma assembleia constituinte, e que apenas esta teria autoridade para decidir sobre a forma de governo que surgiria após o fim do absolutismo. As eleições para essa assembleia ocorreram em 12 de Novembro de 1917, como planeado pelo Governo Provisório, e à excepção do Partido Constitucional Democrata, que foi perseguido pelos bolcheviques, todos os outros puderam participar livremente. Os Socialistas Revolucionários receberam duas vezes mais votos do que os bolcheviques, e os partidos restantes receberam muito poucos votos.
Durante este período, o governo bolchevique tomou uma série de medidas de impacto, como:
- Pedido de paz imediata: em Março de 1918, foi assinado, com a Alemanha, o Tratado de Brest-Litovski, onde a Rússia abriu mão do controle sobre a Finlândia, Países bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia), Polónia, Bielo-Rússia e Ucrânia, antes sob seu domínio.
- Nacionalização da propriedade privada: As grandes propriedades foram tomadas pelo povo aos aristocratas e à Igreja Ortodoxa.
- Declaração do direito nacional dos povos: o novo governo comprometeu-se a acabar com a dominação exercida pelo governo russo sobre regiões tais como a Finlândia, a Geórgia ou a Arménia.
- Estatização da economia: o novo governo passou a intervir directamente na vida económica, nacionalizando diversas empresas.
Guerra civil
Durante o curto período em que os territórios cedidos no Tratado de Brest-Litovski estiveram em poder do exército alemão, as várias forças anti-bolcheviques puderam organizar-se e armar-se. Estas forças dividiam-se em três grupos que também lutavam entre si:
- Czaristas ,
- Liberais,
- Anarquistas.
Terminada a guerra civil, a Rússia estava completamente arrasada, com graves problemas para recuperar sua produção agrícola e industrial.
Sem ser saudosista, nem poder ser rotulado de comuna, já se tornou lugar comum afirmar que a Revolução Russa de 1917, tem o mesmo significado para o século XX, do que a Revolução Francesa para o século XIX. Ambas foram formidáveis movimentos de massas e ideias que deram novo perfil à História da Humanidade: transformando a vida de milhões e empolgando ou aterrorizando outros tantos.
1 comentário:
Mas alguém iria ousar chamar-te comuna??
parabéns pelo blog!
Abraço
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