quarta-feira, agosto 17, 2011

O Sol enlouqueceu?

Será que a nossa estrela enlouqueceu?

Eis uma boa pergunta, que muitos de nós gostariam de colocar a astrónomos reputados, tantos tem sido os flares, as projecções de massa coronal, as perturbações magnéticas e consequentes alterações da nossa ionosfera.

As especulações grassam na internet, sobre o Sol (e as suas repentinas e inquietantes mudanças de humor), há quem veja uma possível companheira (uma anã castanha?) e faça especulações sobre o nosso Sistema Solar (o que há para lá de Plutão?), o que se passa na nuvem de Oort? Existe um planeta de grandes dimensões (Tycho?) na periferia do nosso sistema solar, que projecta cometas e asteróides contra a Terra ciclicamente? Será que esse planeta acompanhado por uma anã castanha perturbará ciclicamente o Sol (num ciclo de 12.000 anos ou de 3.600 anos?)

Certo é que anda muita gente perturbada, só que as dores de estômago do final do milénio já passaram. Agora encontramo-nos perto do ano de 2012, ano em que o calendário acaba para os Maias. Correspondendo para esse povo e a muitos outros também a um final de ciclo e a um inicio de outro.

Polémicas à parte, parece que o Sol está a despertar de uma sesta profunda, e durante os próximos anos, deveremos observar níveis muito elevados de actividade solar.

Será que todos estão preparados para uma tempestade solar sem precedentes?

A arte de prever o clima espacial ainda parece estar no inicio, mas a NASA e a NOAA tem vindo a lançar uma frota de satélites para remediar o problema.

Mas, que problema temos em mãos?

Se calhar dizem eles, a pior tempestade solar dos últimos 150 anos…

O que poderemos fazer?

Colocar os satélites a dormir? Ou desligar os transformadores das redes eléctricas?

Estudar estes fenómenos (vento solar, variação do campo eléctrico e magnético, as ondas de rádio e as ondas que navegam através do espaço) parecem ser a missão das várias sondas que estudaram e estudam actualmente o Sol, tais como:

As sondas pioneiras, denominadas Helios 1 e 2, que foram lançadas em 1974 e 1976, respectivamente, sendo uma missão conjunta entre os EUA, responsáveis pelos veículos lançadores, e a antiga República Federal da Alemanha. A sonda Helios 1 carregava 8 instrumentos científicos com o objectivo de investigar o vento solar, os campos eléctrico e magnético, os raios cósmicos e a poeira cósmica. A missão Helios 2, gémea da Helios 1, levou 11 instrumentos científicos e chegou mais próxima ao Sol, a apenas 44 milhões de quilómetros.

A sonda Ulysses, lançada em 1990 pela Discovery, está em uma órbita altamente inclinada permitindo observar os pólos do Sol. Essa órbita foi adquirida através da manobra de gravidade assistida, após passar próximo ao planeta Júpiter. É uma missão de responsabilidade das agências americana, NASA, e europeia, ESA. Entre seus objectivos podemos citar o estudo da origem do vento solar e da poeira interestelar.

Outra sonda resultado da parceria NASA e ESA é a sonda SOHO (“Solar and Heliospheric Observatory”) lançada em 1995. A SOHO está localizada entre o Sol e a Terra, num ponto de equilíbrio, chamado ponto de equilíbrio de Lagrange, a uma distância três vezes maior que a distância Terra-Lua. Essa posição permite à sonda receber a luz solar constantemente. Doze instrumentos científicos estão a bordo dessa sonda enviando dados a respeito da estrutura e da dinâmica interna do Sol, da corona e do vento solar. A sonda SOHO também foi responsável pela descoberta de mais de 600 cometas.

A sonda Genesis, lançada em 2001, teve como meta principal a colecta de partículas do vento solar. A sonda passou parte de sua missão, quase 30 meses, localizada no ponto de equilíbrio L1, e em 2004 um conjunto de colectores regressaram à Terra.

Embora os pára-quedas tivessem falhado durante a descida, danificando significadamente o material recolhido, ainda foi possível salvar alguns colectores de partículas.

Os cientistas acreditam que os dados obtidos desse material poderá trazer informações sobre a origem da nebulosa que formou o nosso Sistema Solar. A sonda Genesis, com os painéis solares e os instrumentos científicos, voltaram ao ponto de equilíbrio (após enviarem os colectores para a Terra) e permaneceram lá até 2005 quando a sonda deixou a vizinhança do ponto L1 e seguiu para uma trajectória heliocêntrica.

STEREO são duas sondas gémeas, A e B (“Ahead” e “Behind”, respectivamente), que foram lançadas em 2006 em órbitas heliocêntricas. Para conseguir obter a separação desejada entre as duas órbitas foram necessários dois “fly-bys” lunares.

Cada sonda carrega 7 instrumentos que estudarão a evolução em 3-dimensões de ejecções de massa coronal, desde o nascimento na superfície do Sol até um eventual impacto com a Terra. A obtenção de imagens em 3-dimensões é possível devido à configuração entre as sondas, a Terra e o Sol. A estrutura, em detalhes, da cauda do cometa McNaught também foi observada pelas sondas. Nos próximos anos uma grande quantidade de dados serão obtidos pela STEREO, permitindo um melhor conhecimento do Sol e da região vizinha.

Outras sondas estão observando o nosso Sol: TRACE (“Transition Region and Coronal Explorer”), HESSI (“High Energy Solar Spectroscopic Image”), Solar-B, SDO (Solar Dynamics Observatory), lançada em, 2010, envia 18 MB de dados por segundo. As suas imagens ajudarão a compreender a formação de manchas solares, as erupções e outros fenómenos solares, ACE (Advanced compostion Explorer), lançada em 1997 estuda os ventos solares e a IBEX (Interstelar Boundary Explorer), lançada em 2008, rastreia as ejecções da nossa estrela nos confins do nosso sistema solar.

É uma autêntica marcação cerrada ao Sol.

Em 2018, a SPP (Solar Probe Plus) far-lhes-á companhia devendo aproximar-se o mais possível do Sol.



1 comentário:

Anónimo disse...

Esplêndido artigo Mário, em contraste com outros, noutros blogues onde proliferam o misticismo e a não-ciência.
Paula Neves

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