GRÃ-BRETANHA, FRANÇA E DINAMARCA OS ASES DO FANTÁSTICO
“Heartless” de Philip Ridley é o grande vencedor do Fantasporto 2010. Cineasta já premiado no Fantas com “Passion of Darkly Noon”, regressa catorze anos depois para arrebatar três dos principais prémios da competição fantástica.
Os britânicos demonstram ainda a sua fúria ganhadora arrebatando também o principal prémio da prestigiada Semana dos Realizadores. Depois de ter triunfado em Cannes, Andrea Arnold ganha o Prémio Manoel de Oliveira com o seu “Fish Tank” (“Aquário”). A polémica história de um padre vampiro, “Thrist – Este é o Meu Sangue” foi o incontestado vencedor da secção Orient Express.
Num ano em que o cinema fantástico europeu confirmou estar a passar um excelente momento de forma, as propostas seleccionadas para competição não deram hipótese ao cinema dos outros continentes. Entre as todas as cinematografias os britânicos dão trunfos com uma combinação de cinema de grande qualidade e de autor que conquista o apluso do público.
“Heartless” de Philip Ridley é um dos melhores exemplos das novas vias do cinema fantástico inglês, que parte da realidade mais próxima para construir uma história de suspense e terror. A par do Grande Prémio Fantasporto 2010, que reconhece as enormes qualidade técnicas e de argumento do filme, o filme conquistou ainda os prémios para Melhor Realizador e Actor, pelo notável desempenho de Jim Sturgess. Esta é a história de um fotógrafo que espalha a sua paranóia por uma Londres nocturna e fantasmagórica que lhe serve de contraponto. Está marcado na pele por cicatrizes de nascença e assombrado pelo demónios que povoam a sua mente.
O prémio que consagra uma obra mais de autor, dentro do fantástico, o Prémio especial do Júri foi atribuído a “Deliver us From Evil” de Ole Bornedal. O conhecido realizador dinamarquês, de que o público do Fantas viu “Nightwatch” , o seu primeiro filme e ainda “The Substitutes” e “Just Another Love Story”, convenceu o júri com uma história de ódio e xenofobia, com o sarcasmo típico dos dinamarqueses. Este prémio visa não só reconhecer as qualidades intrínsecas do filme, mas alertar os distribuidores para uma obra que merece distribuição comercial.
A França, no ano em que é homenageada, sai duplamente vencedora, provando que a renovação do fantástico gaulês está em marcha depois do exemplo de “À L´Interieur”. “La Horde” de Yannick Dahan e Benjamim Rocher ganhou dois prémios: Melhor Argumento e Efeitos Especiais. Renovando o género do polar este é um cocktail explosivo de “film noir”, acção e horror, sem concessões. Nos subúrbios de Paris, um prédio decadente é o esconderijo de um bando de mafiosos. Quatro polícias desejosos de vingança pela morte de um colega, decidem fazer justiça pelas próprias mãos, contudo, não contavam ser alvo de uma horda de zombies sedenta de sangue.
O cinema português mereceu do júri uma menção especial. O filme “Embargo” de António Ferreira, que adapta a novela do nobel José Saramago, suscitou do júri internacional palavras de muito apreço e admiração, “pela originalidade da história, humor subtil e uma cuidada visão das relações humanas”.
O júri da Secção oficial de Cinema Fantástico era constituído por o francês director do Festival de Cinema Fantástico de Estrasburgo, Daniel Cohen, a jornalista búlgara Neva Micheva, o produtor norte-americano Ted Chalmers, o jornalista alemão Yazid Benfeghoul e o director do Festival de Ourense, Enrique Nicanor.
O TRIUNFO DA ERA DO “AQUÁRIO”
A 20ª edição da Semana dos Realizadores foi igualmente para um filme britânico. A segunda longa metragem da argumentista e realizadora Andrea Arnold, “Fish Tank” (“Aquário”) arrecadou o Prémio Manoel de Oliveira.
Depois do Óscar em 2003 para a curta-metragem “Wasp” e do Prémio Especial do Júri de Cannes em 2006 para “Red Road”, foi a vez deste cru e duro retrato da vida de uma adolescente dos subúrbios londrinos. Excluída da escola e ostracizada pelos amigos Mia vê a sua vida virada do avesso quando a mãe traz para casa um novo namorado. O júri reconheceu nesta história próxima do melhor do cinema realista britânico as qualidades do argumento, tendo atribuído o prémio da respective categoria.
Do conhecido e premiado Karen Shakhnazarov, que tem apresentado vários dos seus filmes no Fantasporto, “Ward nº6” recebeu a distinção de Prémio Especial do Júri. Filme que representou a Rússia nas nomeações para Óscar, este é uma actualização de uma das mais perturbadoras histórias de Anton Tchekov, o grande mestre da literatura russa e mundial. A partir de um facto real, a narrativa segue a trajectória Andrey Ragin, um médico psiquiatra, chefe de um hospício, que se torna ele próprio um dos pacientes.
JÚRI RENDE-SE AO PADRE VAMPIRO
Um dos mais conceituados realizadores asiáticos da actualidade, Park Chan-Wook, um velho conhecido do Fantas, onde os seus filmes têm recebido várias distinções, com destaque para “Old Boy” e a trilogia da vingança, “Thirst – este é o meu Sangue” não deu hipótese à concorrência. Filme perturbador e provocatório, de um cineasta católico, que põe em causa a simbologia da sua religião. Em vésperas da sua distribuição comercial no nosso país, nada melhor que o Prémio Orient Express. Um padre católico, homem recto e respeitado pelos seus paroquianos, após uma viagem a África, é subitamente confrontado com as tentações da carne, a luxúria do sexo e o fascínio pelo sangue. Basicamente é um vampiro que substitui o corpo e o sangue de Cristo, pelo corpo e o sangue humanos numa narrativa absorvente, de enorme impacto visual.
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