terça-feira, março 02, 2010

À mesa da usura

«Os quatro maiores bancos privados a actuar em Portugal fecharam 2009 – ano de miséria e de desemprego para grande parte da população portuguesa e de falências e encerramentos de empresas por todo o país – com lucros totais de 1445,6 milhões de euros, mais 14 por cento do que em 2008. O que, em números redondos, representa qualquer coisa como quatro milhões por dia, ou 170 mil euros por hora. É algo elementar que a economia ensina: o dinheiro não se evapora. Quando desaparece do bolso de uns, os mesmos de sempre, está a entrar no de outros, os de sempre também.

Seria de supor que, tendo tido tantos lucros, a banca tivesse, em contrapartida, pago mais impostos. Não, pagou ainda menos do que em 2008. Em 2008, as quatro instituições (e a taxa efectiva de IRC da banca é de apenas 15,6 por cento, contra os 25 por cento de IRC mais 1,5 por cento de derrama das restantes empresas) tinham pago 391,9 milhões de euros em impostos. No ano passado, à custa de inumeráveis «benefícios fiscais», pagaram 330,8 milhões, 16 por cento menos.

Boa parte dos lucros da banca, em 2009 foi, continuará a sê-lo nos próximos anos, paga pelos contribuintes, através de todos os «apoios», «avales» e «benefícios» que o governo generosamente concedeu ao sector e o Orçamento de Estado deste ano começará já a cobrar aos salários e pensões. E não é que a banca, segundo notícias recentes, esgotou já os montantes desses avales e quer mais? E não é que o governo, que no ano passado aumentara o capital da CGD em mil milhões de euros (para ela os injectar no BPN) vai agora aumentar de novo, e com o mesmo objectivo, esse capital até ao valor de 1585 milhões de euros? Não será difícil imaginar a quem o OE e o PEC apresentarão a factura…»

No artigo “à mesa da usura”, de Manuel António Pina, publicado na revista «Notícias Magazine» (DN) de 2010.02.21

Enviado pela amiga Gaby



Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...