Com os altos picos dos Andes e uma floresta tropical húmida, a Bolívia é um país de extremos ecológicos. Durante, o inverno recente do Hemisfério Sul, as temperaturas anormalmente baixas, em parte da região tropical do país atingiu duramente espécies de água doce matando mais de 6 milhões de peixes, milhares de jacarés, tartarugas e golfinhos do rio.
Os cientistas que visitaram os rios afectados dizem que o evento é o maior desastre ecológico que a Bolívia conheceu, e, como um exemplo de uma mudança climática repentina causando estragos na vida selvagem, e sem precedentes na história.
"Há um enorme número de peixes mortos", diz Michel Jegu, cientista do Instituto de Desenvolvimento de Pesquisa em Marselha, França, que actualmente está trabalhando no Noel Kempff Mercado Natural History Museum, em Santa Cruz, Bolívia. "Nos rios perto de Santa Cruz há cerca de 1.000 peixes mortos para cada 100 metros de rio."
Com tais eventos climáticos extremos potencialmente se tornando cada vez mais comuns devido às alterações climáticas (ou ao aquecimento solar?), os cientistas apressam-se para coordenar a investigação sobre o impacto e rapidez com que estes estão acontecendo sobre vastas áreas do globo e questionam-se mesmo se estes ecossistemas atingidos recuperarão?
A quantidade extraordinária de carne de peixe em decomposição poluiu as águas dos rios Grande, Piraí e Ichilo, na medida em que as autoridades locais tiveram de fornecer fontes alternativas de água potável para as cidades ao longo das margens dos rios. Muitos pescadores perderam a sua principal fonte de receitas, tendo sido proibidos de pescar mais peixes, a partir de populações que, provavelmente, lutam para se recuperar.
A culpa é, pelo menos indirectamente, duma massa de ar da Antártida que se instalou ao longo do Cone Sul da América do Sul, durante o mês de Julho. A pressão prolongada fria também tem sido associada à morte de pelo menos 550 pinguins ao longo das costas do Brasil e milhares de bovinos do Paraguai e do Brasil, bem como centenas de pessoas na região.
A temperatura da água nos rios bolivianos que normalmente registram cerca de 15 ˚ C durante o dia, caiu para um valor tão baixo quanto 4 ˚ C.
Hugo Mamani, chefe da previsão no SENAMHI, centro nacional de meteorologia da Bolívia, confirma que a temperatura do ar na cidade de Santa Cruz caiu para 4 ˚ C em julho deste ano, uma baixa batida apenas por um registro de 2,5 ˚ C, em 1955.
Mas, exactamente como o frio causou tal devastação permanece um mistério. Até agora, não houve estudos rigorosos dos danos ecológicos, apenas observações anedóticas.
Fons Smolders, um cientista da pesca na Radboud University em Nijmegen, na Holanda, é um especialista que visitou a área e está ansioso para que o fenómeno receba estudo apropriado porque tais eventos climáticos podem se tornar mais comuns no futuro.
Muitas vezes, quando o frio provoca mortes de peixes em lagos, a mortalidade está directamente com a hipóxia, quando os níveis de oxigénio são baixos demais para fornecer as células dos animais e tecidos. Isso ocorre porque as temperaturas de superfície mais frias podem reduzir a mistura na coluna de água.
A morte ocorreu principalmente nos rios, Smolders suspeita que estão associados a uma estranha infecção. "Alguns dos peixes que eu vi tinham manchas brancas que podem indicar a doença. O frio provavelmente fez o resto", explica ele.
"Quando os peixes morrem, geralmente não é um factor único, mas múltiplos factoresres associados", concorda Steven Cooke, um ecólogo aquático da Universidade de Carleton, em Ottawa, no Canadá, que no ano passado escreveu sobre o choque térmico nos peixes. "Então, se as temperaturas de choque frio ou mais frias estão sendo implicadas na mortalidade, provavelmente há algo mais acontecendo também."
Fonte: http://www.nature.com/news/2010/100827/full/news.2010.437.html
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